Entre Sem Bater - A Resposta

Um Provérbio Indígena diz:

"... nenhuma resposta também é uma resposta ..."(1)

Provérbios, sejam eles de qualquer cultura, demonstram como pode ser a concepção moral de um povo e até mesmo uma nação. Como a maioria dos provérbios cuja origem são culturas milenares, são excepcionais formas de reflexão. Excepcionalmente, no caso dos provérbios indígenas, a diversidade e complexidade são muito maiores. A enormidade de grupos que se autoidentificam como povos originários ou indígenas suscitam uma pergunta que nem sempre tem resposta

Existe uma relação especial do território tradicional destes povos coma experiência de subjugação e discriminação da cultura dominante?

Com toda a certeza, alguns exemplos darão como resposta um sim com fundamentação bastante forte. Por outro lado, algumas culturas e nações e colonizadores, como o Brasil, certamente receberam influência destes povos.

RESPOSTA

É provável que o conjunto de provérbios e ditados possam formar e alinhar-se uma verdadeira filosofia a partir da vivência humana. Por exemplo, ao unirmos um provérbio chinês sobre silêncio, e o provérbio Hopi(*) sobre o mesmo tema e uma resposta, tudo fica claro.

"... se a palavra vale prata, o silêncio vale ouro ..." indica, certamente, que o silêncio é uma resposta preciosa.

O silêncio a uma pergunta mal feita pode ser a melhor resposta para quem tem a intenção de refletir sobre uma pergunta sem qualidade.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Por outro lado, o poeta e escritor Rubem Alves definiu com muita propriedade, a relação da escola e perguntas(2) e respostas. Os povos indígenas não tinham o que conhecemos como escola e aprendiam a perguntar e responder com a vivência. O contato com a natureza e as observações que faziam eram, sem dúvida, uma resposta para todas as suas dúvidas.

Assim sendo, explica-se a profusão de provérbios, em muitos casos semelhantes, de nações indígenas que nunca se cruzaram.

Podemos dizer, enfim, que os pensamentos, ditados e provérbios dos povos indígenas são uma espécie de resposta às nossas perguntas ruins.

RESPOSTA CERTA

Na era digital, sem dúvida, as redes sociais amplificam as vozes e o volume das conversas torna-se mais importante do que o conteúdo. Estamos sem rumo numa avalanche constante de informações, opiniões, e debates estéreis, com gritos e desentendimentos no comando. Em outras palavras, é um processo de comunicação que para que nos ouçam é preciso falar mais alto, mais rápido, e com mais convicção. Entretanto, essa barulheira toda raramente leva à sabedoria ou ao entendimento profundo. Pelo contrário, ela pode afastar a verdadeira reflexão e o pensamento crítico.

Rubem Alves, em sua sabedoria, nos alerta que escolas existem para ensinar a fazer perguntas. Desse modo, esse pensamento é um convite à curiosidade, à busca pelo saber que vai além do óbvio e do superficial. É um alerta para que, ao invés de nos conformarmos com uma resposta pronta, nos dediquemos a explorar as perguntas que realmente importam.

O que nos desafia e nos faz pensar não é a resposta certa(3), mas as perguntas que suscitam respostas e não opiniões sem fundamento. Contudo, o ambiente ruidoso das redes sociais contraria essa visão, sobretudo em tempos de fake news e falta de perguntas. Em vez de promoverem um espaço de questionamento e aprendizagem, as plataformas digitais se transformaram em arenas de combate. Espaços onde todos sentem a necessidade de se posicionar rapidamente, de emitir opiniões sem reflexão, de fazer afirmações sem nexo.

SILÊNCIO

Nesse contexto, o provérbio Hopi assume uma relevância ainda maior, mesmo que não caiba no mundo moderno. O silêncio, em uma época onde todos gritam, pode ser uma forma de resistência. Resistência à pressão de ter uma opinião sobre tudo, à necessidade de participar de todas as discussões, ao ruído ensurdecedor que nos cerca.

O silêncio, permite, sobretudo, a introspecção, a análise cuidadosa e a maturação das ideias. É no silêncio que muitas das grandes respostas se formam. Por outro lado, o silêncio, em ambientes digitais e redes sociais, é pura omissão. O silêncio, analogamente à uma eleição de políticos equivale ao voto em branco, que é o primeiro a ir para a lixeira.

As redes sociais, raramente valorizam o silêncio, o que faz parecer que os tolos(4) venceram qualquer embate de ideias. A lógica algorítmica das plataformas privilegia a velocidade e a quantidade em detrimento da qualidade e da profundidade. Assim, as vozes mais estridentes, as opiniões com mais polarização, e as frases mais provocativas tendem a ganhar destaque. Nesse ínterim, as reflexões com ponderação e os questionamentos genuínos ficam com o silêncio sob o peso da ignorância.

Essa dinâmica cria um ambiente de aprendizagem difícil e com barreiras intransponíveis. Como Rubem Alves bem pontuou, o verdadeiro ensino deveria incitar a curiosidade e o questionamento, e não apenas fornecer respostas padrão. Mas como fazer perguntas em um espaço onde a resposta que se espera é a que agrade a maioria? Como refletir quando tudo ao nosso redor nos empurra para respostas rápidas e conclusões sem responsabilidade? A gritaria das redes sociais inibe o espaço necessário para a reflexão e para a elaboração de perguntas relevantes.

EDUCAÇÃO E GRITARIA

Como se não bastasse, a falação incessante nas redes sociais gera a ilusão de conhecimento rápido e amplo. Ao emitir opiniões de segunda mão ou sem reflexão acabamos construindo um saber superficial. Adicionalmente, ao compartilhar informações sem verificação ou participar de debates sem escuta ativa, não vencemos o teste da análise crítica. Esse conhecimento efêmero é como um castelo de areia, que se desfaz diante do primeiro desafio real ou pequena onda.

Portanto, em meio ao barulho das redes modernas, é vital resgatarmos o valor do silêncio e da pergunta. Precisamos resistir à tentação de sermos apenas mais uma voz na multidão. Podemos e devemos, inquestionavelmente, focar em questionar profundamente e refletir silenciosamente.

Em contraste, o verdadeiro conhecimento, aquele que nasce do questionamento e da reflexão silenciosa, é duradouro e sólido. Ele é fruto de uma jornada interior, de uma busca que muitas vezes requer paciência e disposição para lidar com a incerteza. E essa jornada é frequentemente solitária, marcada por momentos de silêncio e introspecção, que as redes sociais, na sua pressa por respostas, raramente permitem. Somente assim conseguiremos encontrar uma resposta que não seja fugaz, mas que reverbere através do tempo como sabedoria. O silêncio, afinal, pode ser a chave para abrir as portas do verdadeiro conhecimento, enquanto o barulho apenas nos afasta delas.

Enfim, Mário Quintana estava coberto de razão sobre questionar a hipótese de uma resposta certa. A pergunta é muito mais importante e o silêncio é a primeira resposta mais correta. A resposta certa ou a melhor pode ser o silêncio.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) A nação Hopi é uma das diversas nações indígenas da América do Norte. Certamente, as frases que se atribuem aos povos originários acima da linha do equador são pedagógicos e merecem muita reflexão.  .

(1) "Entre Sem Bater - Provérbio Indígena - A Resposta" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/08/09/entre-sam-bater-proverbio-indigena-a-resposta/

(2) "Entre Sem Bater - Rubem Alves - Perguntas e Respostas" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/03/07/entre-sem-bater-rubem-alves-perguntas-e-respostas/

(3) "Entre Sem Bater - Mário Quintana - Resposta Certa" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/11/05/entre-sem-bater-mario-quintana-resposta-certa/

(4) "Entre sem Bater - Provérbio Africano - Eternamente Tolos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/08/07/entre-sem-bater-proverbio-africano-eternamente-tolo/