Cê Planta, Planta eu Ranco!
É possível que alguns leiam o título e percebam do que se trata, muitos talvez nem desconfiem.
Não é que hoje tive uma surpresa agradável. O sentimento foi de saudade gostosa misturada com uma suave melancolia. Sabe daquelas coisas gostosas de sentir? Foi bem gostoso o que senti.
Nos meus tempos de Divisinha e Campestre, faz mais de cinco décadas; praticamente todos os sitiantes --lembro do meu pai e dos tios e também de sitiantes vizinhos-- plantavam arroz para consumo de suas famílias. A quantidade plantada normalmente era pequena, então vinham aqueles sujeitos e arrancavam as sementes e ainda debochavam dos donos do cultivo, cantando: “ Cê planta, planta eu ranco!” e arrancavam mesmo. Eles eram muitos e o plantio era pouco. O prejuízo era sentido. Aqui no nosso sítio, no tempo em que estou aqui, nunca tinha visto nenhum deles, hoje eu ouvi e não sosseguei até localizá-lo na mais alta folha de uma das macaubeiras. Eu estava passando de carro e não pude deixar de parar para aproveitar o canto maravilhoso do Pássaro Preto.
Cê planta, planta eu ranco!, dá sim para encaixar esse verso amineirado no belo canto do Pássaro Preto. Fiquei feliz por ter visto um. Naquele tempo voavam em bandos, cuja algazarra se ouvia ao longe.