TEMPO DE ILUSÕES
Sempre fui um sonhador desde os sete anos de idade. Cogito que me faltava algo desse então, carinho talvez. Em virtude disso eu transferia para os desejos utópicos essa possível carência. Como no momento em que, aos dez anos, projetei sobre a garota da casa vizinha o sonho da felicidade.
E os devaneios foram se multiplicando, se intensificando, aumentando sua forma e variáveis, tornando meu cotidiano um colcha de retalho de planos, esperanças e ideais. Ser escritor conquistando muitos prêmios foi o mais doce de todos os meus anelos, mas entre sonhar e realizar encontram-se os obstáculos e as armadilhas, alguns de difícil transposição.
Não foram nem são os tais empecilhos ou os entraves da imaginação criadora as razões de não concretizar a vontade de ser publicado, e sim o sistema, a falta de incentivo, a indiferença das editoras para apostar num desconhecido. Propostas para fazer parte de publicações coletivas pagas nunca faltaram, porém eu considerava e ainda considero um acinte o escritor pagar para ser publicado.
A vida toda fui assim, inveterado amante das ilusões nas mais diversas áreas da vida. Inclusive no amor, no âmbito familiar, na individualidade, onde quer que houvesse resquícios de romantizar os instantes. Adiantou? Não é questão de ter ou não sentido sonhar, os poetas são assim por essência, eu vislumbro, procuro, quero e sonho. Como mudar o formato das árvores e dos rios? Nasceram já moldados, transformar somente provocará triste adulteração frustrante.