FÁBULA DA INTELIGÊNCIA

Era uma vez no reino dos animais…

Uma empresa especializada em treinamento de mão de obra para desenvolvimento da floresta e um problema sério: a falta de meritocracia na distribuição de funções em seu núcleo gestor.

Era seu presidente o bicho preguiça e tinha como seu staff a anta, a raposa e o burro, porém, somente a raposa, apesar de ser subalterna a primeira e superior ao último, possuía respaldo, pois, além de muito experiente, vez por outra cutucava a preguiça para agir e não deixar a firma ir à bancarrota; a pobre anta estava lá de favor, uma vez que havia perdido dois cargos em seus últimos empregos por pura incompetência e o burro, além de ser desonesto e desprezível, se valia da bajulação e de pequenos golpes para manter sua posição na panelinha, uma vez que não sabia de nada, resumindo, era um inútil de muita utilidade ali dentro e era dele a incumbência de fiscalizar os macacos e demais bichos, estes, aliás, que eram a maioria da massa operária e, mesmo pertencendo à empresa e estando ali por indicação, não tinham treinamento algum, eram funcionários de desenvolvimento limitado e serviam tão somente como elementos de repetição, replicando somente as regras da empresa, além de aturarem a falta de habilidade da anta e os assédios morais do burro, seus encarregados diretos, vale salientar que esse comportamento era adotado por conta de um abono de participação nos lucros.

Todos tinham uma relação de dependência ou de favor devido entre eles, à exceção de um, o lobo, funcionário antigo e preparado, conhecia todas as manhas da empresa, mas era subvalorizado, tinha ido parar lá por um acaso e só servia de suporte para reparar erros dos outros, era muito competente, mas como fazia tudo sozinho e nunca precisou render homenagem a quem quer que fosse, era posto de lado pelo alto escalão, ficando sempre à espera do devido reconhecimento.

Em certa época, o burro, por meio de muita bajulação e outras demonstrações de mau-caratismo, conseguiu tomar o lugar do pavão da direção operacional de treinamento básico, alegando queda no rendimento da empresa e haja vista ter descoberto que nessa seção, podia ganhar mais, porém, como não sabia de nada, mas nada mesmo, solicitou à preguiça um ajudante…

Sobrou, como sempre, para o pobre lobo.

Era uma comédia ver o burro cheio de pose, só dava fora, verdadeira figura decorativa na sala da diretoria. Desmanchava o que funcionava, se perdia nas decisões, inventava absurdos e tudo isso com aval da anta, que mais atrapalhava a empresa do que ajudava e o pobre lobo só desatando nó sobre nó, mas, como era competente, com o passar dos dias mostrou serviço e os clientes já não procuravam o burro mais pra nada, a não ser alguns descompromissados e funcionários bajuladores e essa situação começou a incomodar o pobre burro.

Ao perceber que estava perdendo espaço, o incompetente quadrúpede se deixou levar pela vaidade ferida e, como a inveja é a arma dos incompetentes, resolveu procurar a anta para se queixar e então armaram pra cima do lobo uma situação absurdamente apelativa: solicitaram à preguiça a demissão imediata do lobo, pois sua inteligência estava incomodando os clientes, deixando estes a se sentirem diminuídos e pensando em deixar a empresa.

A armadilha foi tão ardilosa que o fato foi ampliado à milionésima potência! Fizeram da inteligência do Lobo uma coisa tão grave que foi motivo de degredo e expulsão imediata do pobre animal da empresa sem dar nem tempo dele saber junto à preguiça e à raposa, que ele achava até meio competentes, os motivos reais de sua saída, até porque se esconderam covardemente. E quanto aos que ele chamava de amigos e companheiros de trabalho, após a trama, também sumiram todos do mapa e sequer procuraram saber dele, talvez para não perder a participação nos lucros. Soube-se também que dias depois foi posto em seu lugar a Tartaruga, um amigo comum da anta (lembrem-se que não havia meritocracia na empresa), mesmo assim, o lobo em nenhum momento se sentiu aviltado ou diminuído, já tinha em mente desde filhote que a cada bela impressão que se causa, conquista-se um inimigo. Queria só fazer seu trabalho e pronto. Holofotes? Pra quê? Não precisava daquilo. Para ser popular é indispensável ser medíocre e ele já estava vendo o exemplo vivo da mediocridade bem ali na sua frente, uma anta e um burro no poder e confirmou eternamente que aquilo não era legal. Após isso, o lobo seguiu seu caminho de cabeça erguida, poderia ter dito muitas coisas para aqueles dois imbecis e com todos que o abandonaram, mas, como animal experiente que era, chegou à conclusão que humilhadores não são vencidos pela vingança ou, muito menos, com violência. O que os vence é a indiferença que se impõe sabendo que eles não têm nenhum poder sobre ninguém e deixando muito claro para eles o que pensamos das suas condutas uma única vez.

Demelirios Setenóva
Enviado por Demelirios Setenóva em 08/08/2024
Código do texto: T8124285
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