Lavar a louça

 

Quem me botava no serviço era a dona Ivone: o Joãozinho secava e guardava a louça que ela lavava.

 

Às vezes fazia o serviço completo, mas, preguiçoso de nascença, deixava a louça molhada no escorredor para guardar depois de seca, concessão do amor materno. Uma colega de serviço, Clarice, varria e lavava o chão do posto e cabia pra mim recolher o lixo e lavar a louça, mas sem o arreglo de deixar no escorredor: "Tem de passar o serviço com tudo em dia, Adolfo".

 

Lembrei dessas coisas agora, pois a senhora Rosi Guerreiro foi tirar um soneca depois do almoço e disse: "Tira a louça limpa da máquina e coloca a suja, João?". Sim, máquina de lavar louça. A D O R O. Essa já é a segunda que possuo. Uma maravilha, as coisas já saem secas, é só guardar. Digo que, se fosse solteiro, ainda sim teria uma. O Brasil só será um país igual no dia em que toda a família brasileira possuir o luxo de uma máquina de lavar louça e a necessidade de acompanhamento odontológico total, sem banguelas. O Brasil não é pobre, é desigual, os desdentados são vítimas visíveis e sintomáticas de um modelo concentrador.

 

Estou ensinado a bebê a usar a máquina. A Trica aperta o botão de iniciar e corre pra trás do seu "vossalo", esperando a operação iniciar e, ao começar o barulho da água jorrando, dá pulinhos e gritinhos de alegria, escancarando a boca cheia de dentes. Eh eh eh eh eh, crianças, dentição completa e máquinas de lavar louça são tudibom. Desejo-as para todos.