JORNADA ESPETACULAR, FINAL
No primeiro relato omiti um fato marcante, principalmente para quem desfrutou o prazer de ler pelo menos dois títulos do premiado escritor baiano Itamar Vieira Junior, Torto Arado e Salvar o Fogo, dois livros onde o Rio Paraguaçu faz parte da cena cotidiana.
No acesso ao Poço Azul, alguns do grupo desfrutaram o prazer de cruzar a pé duas vezes o rio, considerado como mais importante curso d’água correndo exclusivamente em solo baiano.
Diamantina, essa falsa chapada, que não guarda características desse tipo de relevo, mas que em compensação brinda seus visitantes com clima nada baiano, agregando vento e altitude, e que além das intempestivas chuvas de verão, recebe um reforço adicional das orográficas, de origem oceânica, que lá se precipitam ao encontrarem a barreira da chapada, propiciando uma espécie de caixa d’água para todo estado da Bahia.
No terceiro dia de excursão, foi necessária uma dose suplementar de paciência, para superar o esburacado e pedregoso caminho que acessa a pequena vila de Igatu, que como Mucugê, vivenciou no auge do garimpo de diamantes a maior densidade demográfica do Brasil. Hoje ambas contam com diminuto contingente de residentes.
Alguém, que por acaso já conhecia a entocada Machu Pichu no Peru, encontrou semelhanças com as ruínas de pedra da antiga Igatu, então a cidade ganhou a alcunha de Machu Pichu brasileira. Nosso bem informado guia, nos agrupou na praça por mais de meia hora, nos relatando particularidades da história dessa pequena vila.
Depois de curta caminhada, visitamos o Parque Histórico da Cidade, protegido pelo IPHAN e a Galeria Arte e Memória, repleta de documentação de um passado de muita exploração, tanto de jazidas, como de escravos, que deixaram como legado visível a pavimentação pé-de-moleque do centro histórico, e também das íngremes, tortuosas e estreitas vias de acesso ao sítio.
Por fim, conhecemos as ruínas das casas de garimpeiros que remetem às de indígenas peruanos. Enquanto no Peru o rio Urubamba corta o Vale Sagrado dos Deuses e permeia a icônica cidade, na versão baiana esse papel é exercido pelo o já citado e badalado Rio Paraguaçu.
Não poderia deixar de citar nosso almoço na cidade, em restaurante simples, porém de requintado esmero no sabor e generosidade dos pratos, se transformando, pelo menos na minha perspectiva, na melhor da viagem, onde despontaram: suculenta carne de sol, acompanhada da bem elaborada farofa, refogadinho de mamão verde, aipim douradinho e com interior cremoso, e ainda aquela salada fresquinha.
À noite, nos reunimos para conversas intermináveis, onde pizzas de refinado sabor ganharam a companhia do bem elaborado vinho local, um presente especial de nossa coordenadora ao grupo, depois da visita que fez a vinícola local.
No último dia de passeios foi nos apresentado o Morro do Pai Inácio, com direito a conhecimento da lenda associada a esse indescritível acidente geográfico e seu singular entorno.
Em seguida, fizemos city tour por Lençóis, a maior e mais maltratada cidade que conhecemos na chapada. Depois do trivial almoço começamos o retorno a encantada Mucugê, que por gentileza de nosso guia, contou com visita rápida a Andaraí, para que pudéssemos saborear sabores inusitados em sorveteria local.
Valeu, incluir a pequena Andaraí no roteiro de volta. Agora a expectativa fica voltada para um possível retorno no próximo ano ao Vozes da Chapada, com direito a conhecer duas cidades especiais da região, segundo a palavra de nosso guia, a planejada Rio de Contas e Piatã, a cidade com maior altitude (1.280 metros) de todo o Nordeste e temperaturas que podem se aproximar de zero grau centígrado no inverno.