JORNADA ESPETACULAR, PRIMEIRA PARTE
O que irão fazer nove idosos coordenados por outra idosa de referência, numa viagem para localidade com perfil de aventura, ou seja, direcionado a jovens? A resposta é simples e direta, se divertir, e sem moderação!
O fator agregador do grupo vem da identidade sinérgica, oito dos dez componentes são coralistas de carteirinha, o que, aliás, foi também a desculpa oficial, para levar adiante a empreitada, afinal Vozes da Chapada soa como um grito de clamor relevante.
Nossa jornada aérea foi longa, com direito a conexão em São Paulo, antes de aterrissar em Vitória da Conquista, num percurso de quatro horas, que em vôo direto seria pouco superior à uma hora. Um motorista com sua van nos aguardava no desembarque, para assim cumprir a parte terrestre do trajeto. Porém, fatores externos como a chegada da noite e intensidade de trânsito acrescentaram mais horas que o habitual, para se chegar ao destino final, a tão aguardada Mucugêlo. Logo, o suposto primeiro dia foi consumido com traslados terminando as bordas do segundo dia de estada.
O primeiro dia efetivo de viagem começou carrancudo e acinzentado, prometendo aumentar a umidade do ar no decorrer do período. Depois de farto café da manhã, partimos eufóricos para assistir a primeira exibição do encontro de corais. A inconveniente chuva tentou fazer concorrência com o espetáculo musical, deve ter se frustrado, pois apesar das interrupções momentâneas não conseguiu arranhar a beleza dos corais.
A natural empolgação do mestre sem cerimônia foi o ponto alto na descontração das apresentações, pois vento e chuva associados não foram capaz de minar a autoestima dos maestros e sua trupe vocal.
Por incrível que possa parecer, todos se salvaram ilesos dessas intempéries, e partimos esfomeados para a primeira refeição salgada em solo da Chapada Diamantina. A programação da tarde incluía visita ao projeto Sempre Viva, uma plantinha especial, típica de terras altas, como as que se configuram no Maciço do Espinhaço, nesse caso, no interior baiano.
Depois de rápida passagem pelo centro de exposições, partimos serelepes para a trilha, que se tornou musical, praticamente tempo e distância foram abstraídos pelo descontraído coral ambulante.
São Pedro até deu guarita, permitindo ao grupo se deliciar com a beleza cênica do rio local, suas corredeiras e os pequenos saltos. Na volta, o dia perdeu luminosidade e não demorou para a chuva desabar, afinal teve paciência de esperar o dia passar, para enfim mostrar sua cara.
À noite, de novo sob a batuta do mestre sem cerimônia, agora em ambiente acústico, tivemos todos o privilégio de assistir a inspirado desfile de maestros e seus corais, enquanto fora das dependências da igreja a chuva caía sem possibilidade de intervir no show.
O segundo dia efetivo de viagem amanheceu carregado de pesadas nuvens, porém com expectativa de clarear ao longo do período, e se confirmou a previsão. Poço Encantado, nosso destino matinal, condiz com nome, assistimos a um dos muitos espetáculos que a natureza nos oferece, onde foi necessário uso do capacete de mineiro, com lanterna acoplada, que fornece a luz suficiente para vencer o tortuoso caminho de descida até o nível da água.
Tivemos a oportunidade de assistir um espetáculo ao nível do sagrado, raios de sol penetrando e iluminando de azul suas translúcidas águas, e de acordo com o deslocamento das nuvens alterava a luminosidade da caverna, um show de natureza.
Depois de um almoço funcional retomamos a estrada, agora com destino ao Poço Azul, este mais acessível, onde substituímos o capacete por um colete flutuante, óculos de mergulho e aquele tubo que permite respirar, mesmo com o rosto submerso.
De proibido na visita anterior, agora se permitia banhar naquelas transparentes e alcalinas águas. Que sensação especial a de nadar pausadamente dentro desse ambiente, também iluminado pelo foco de luz solar, até mesmo a temperatura da água não inibia a permanência.
Esse foi sem sombra de dúvidas o dia mais especial da viagem, que incluiu a travessia a pé do Rio Paraguaçu, o mais importante dos rios genuinamente baianos, com sua coloração avermelhada e temperatura agradável.