Os “Catecismos” de Carlos Zéfiro
A nudez jamais será castiga.
Escrever é um grande desafio para qualquer pessoa consciente. Nunca foi fácil enfrentar o leitor, que sempre exigiu o melhor do autor. Não importa se você é jovem, experiente ou se já morreu. Parece que a maioria só é lembrada depois que morre, quando não há mais tempo para se defender. Mas esse não é o caso do autor que vou mencionar.
Não tive aula de educação sexual na escola. Nada mais esdrúxulo, se comparado com os dias atuais. Hoje as crianças aprendem na escola e nas redes sociais.
Alguns números, no entanto, me chamam a atenção. No Brasil, 40% das mulheres dizem que não sentem prazer em ter relações sexuais. Mas como foi isso no passado? Acho que bem pior.
Como não tive aulas de educação sexual, recorri às "mulheres de vida fácil" como eram chamadas as prostitutas da Avenida Bahia. Certo dia, ganhei de uma delas um belo presente, chamado "Catecismo da Paula". Fiquei chocado! Não conhecia e nunca tinha ouvido falar de Carlos Zéfiro.
Ela me disse, no ouvido: "Quando aprender a reza, vamos comungar juntos".
Zéfiro: Alcides de Aguiar Caminha (Rio de Janeiro 1921 - 1992) produziu suas revistas pornográficas nas décadas de 1950 e 1960. Os "Catecismos". Ficaram popularmente conhecidos pelas histórias desenhadas a pincel, bico de pena e impressas em branco e preto.
As revistinhas eram proibidas. Era uma loucura conseguir uma. Os policiais não sabiam onde eram vendidos os "Catecismos". Prefiro acreditar que fingiam não saber. Confesso que eu morria de medo de ser preso. O pedido da revista era feito atrás da banca de jornal. Sempre demorava para chegar, uma eternidade! A entrega era complicada e feita pessoalmente, quando não havia ninguém por perto, em segredo absoluto. Muitas vezes vinha camuflada em um jornal, entre as folhas: era necessário muita cautela! Havia muito risco. As tiragens eram de cinco mil exemplares, que eram lidos e relidos por muitos amigos. Quem conseguia ler primeiro levava a melhor! Saía saltitante, contando suas vantagens.
Nos anos 1970, com a chegada das revistas eróticas coloridas da Suécia e Dinamarca, as revistinhas do Zéfiro perderam o seu prestígio e acabaram desaparecendo.
Hoje não tenho nenhum exemplar. Os que tinha, devolvi para a Dama da Noite. "Fecharam-se as portas/sozinho de novo tive que sair".