Benzedeira de trovada
Benzedeira de trovada
Lu, forma reduzida para Luciana, é uma mulher dos seus quarenta anos. Carrega belos traços, porém sofridos.
Apaixonou-se cedo. Aos dezesseis já estava casada com o primeiro homem que conheceu intimamente. Lu dizia para as irmãs que todas as mulheres deveriam se casar para não ficarem para titias, solteironas, coroas, encalhadas e, como são conhecidas no interior do município gaúcho de Antônio Prado, "benzedeiras de trovoada". Do primeiro casamento para o segundo e terceiro foram pequenos passos, ou melhor, pequenos lapsos de tempo, entrecortados de alegrias e tristezas.
Pouco sabemos do segundo e terceiro casamentos. No primeiro, ela era bem mais jovem, quinze anos era a diferença de idade. Já no último ou no, por enquanto, mais recente, o seu cara metade é mais jovem dezesseis anos.
Epa, forma reduzida ou carinhosa com que é tratado Epaminondas, é um rapaz trabalhador, embora a cachaça esteja tirando seus atrativos físicos e, porque não dizer, afastando suas amizades. Epa briga com ela quase todos os dias. Motivos não lhe faltam: são suas cunhadas que ele diz que lhe enchem o saco, os olhares de Lu para os fregueses do restaurante, e até os decotes acentuados que ela gosta de usar.
Lu já está arrependida de ter sido casada várias vezes e promete que na próxima encarnação se unirá a um só homem, terá dois filhos e, assim como a mãe, benzerá os pimpolhos de quebranto, isipra e arca caída.
Aroldo Arão de Medeiros
22/11/2008