Forja

“É de novo que se endireita o galho”. O ensinamento do antigo ditado popular se mostra incrivelmente atual diante de bizarras situações do século 21. Assim foi na solicitação ao jovem aprendiz no supermercado, para auxiliar no transporte das compras até o veículo. O pedido foi imediatamente interrompido por um vigoroso “preciso atravessar a rua?”. Emendou no mesmo tom de voz que a legislação trabalhista só permitia seus deslocamentos nas calçadas ao redor do estabelecimento comercial. Nada, além disso. Pois então, não é que o bambino pimpão está proibido de cruzar a via pública? Mas que belo!

Nessa mesma linha de proteção aos perfumados e apaniguados bebês se enquadra a mãe indulgente, que classificou a oferta da vaga de repositor de mercadorias para o filho “nutella” como “trabalho escravo”. Isso porque seriam extenuantes 20 horas semanais! Preferiu acobertar o folgado sob suas asas de galinha choca a permitir o desenvolvimento do rebento inserido no mercado de trabalho, administrando suas próprias receitas. E tem ainda os menores de idade contratados pela cooperativa agrícola, impedidos de subir três degraus de escada, nem apanhar ínfimo peso, mesmo no serviço administrativo. Uma simples pasta de arquivo, portanto, deveria ser acessada por outro funcionário.

Por essas e por outras incompreensíveis barbaridades, a chamada “geração Z” deita e rola. Quais seriam as expectativas para o futuro dessa parcela considerável de “nem-nem”, que permanentemente acobertados por direitos de toda espécie, recusam estudo e trabalho? Obviamente esse comportamento não é a regra, mas a tendência é a situação se deteriorar ainda mais. Como essa moçada descolada, folgada e deseducada avalia suas responsabilidades enquanto partícipes da sociedade, vivendo entupida até o pescoço com tecnologias totalmente dispensáveis e sem referências emocionais, sociais, comerciais ou outras interações, necessárias para a formação e o desenvolvimento saudável do intelecto?

Nota-se que a juventude procura por resultados imediatos nas diferentes modalidades de relações interpessoais. A fragilidade natural da idade e a pouca experiência na resolução de adversidades é fator preponderante para que os objetivos, se e quando estabelecidos, se desviem da rota originalmente traçada. Seria compreensível ao jovem almejar uma vida tranquila, sem esforços maiores, cercados por todo tipo de comodidades. Essa é a imagem transmitida por subcelebridades aparentemente bem sucedidas financeiramente, principalmente os tais “influenciadores digitais”, que expõem nas redes sociais o glamour de uma vida repleta de superficialidades. Ainda que a realidade seja o oposto daquela apresentada nos vídeos, a mocidade acaba se inspirando no estilo de vida dessa gente inescrupulosa, cujo único objetivo é lucrar com a ingenuidade alheia. Ignoram as dificuldades a que absolutamente todos são submetidos, na busca incansável por construir e amealhar patrimônio. E que esse processo tem a duração de uma vida inteira de persistência, dedicação, resiliência e muito, mas muito trabalho.

Assim como a forja, que propicia resistência ao aço através da temperatura e da extrema compressão, os mais novos precisam ser sabiamente moldados desde a mais tenra idade. Dessa forma, os pais estarão forjando positivamente o caráter e a personalidade dos jovens, transformando-os em verdadeiros cidadãos, cientes de seus direitos e deveres, resistentes às intempéries da vida. Amor e incentivo, sempre. Complacência e indiferença, jamais.