Infâncias

Quando tínhamos tempo e não possuíamos relógio. A propaganda não era alma do negócio

Éramos desbravadores da vida

O dia era curto

O dia era longo

A fogueira a noite era um pequeno ponto luminoso onde orbitavam imaginações afiadas

A criançada ficava calada ao som de velhas histórias com assombrações, anedotas

Nossos avós nos ensinava os valores da vida

Tudo ficava claro.

A mata era um reino a ser invadido

O tempo deglutido em glosa

Quando tínhamos pés de mangas pra subir e não escadas, o verde que queríamos era a mata inculta

Entrar na casa mal assombrada

Não sonhávamos em contrato

Gostávamos do contato

Abraços verdadeiros

O futebol na rua mostrava a face nua da felicidade

Movidos a simplicidade, campeonatos eram disputados com gana e fervor

Era um terror entrar em casa pra beber água e ter o retorno pra rua cerceado

Não se gastava muito com cadeado

A vida se passava em cercas e muros baixos

O reino era coletivo

O tempo passou...

Vieram os contratos

Os cadeados

As muralhas

Cercas elétricas

A rua virou campo minado

O campo virou condomínio

O domínio do egoísmo transforma minhas memórias em fósseis recentes de um mundo extinto

Quis o destino que eu me tornasse um saudosista

Tenho pena das novas gerações que ganham telas na tenra infância e com essa nova forma de abandono, não conseguem tragar o gosto bom de ser criança

Meninos e meninas com agenda cheia

Não colocam o pé na areia

Não comem fruta no pé

É triste saber que minha geração que foi tão bem vivenciada nas situações até aqui rabiscadas não se preocupa em deixar o legado do preparo

Crianças poupadas e alejadas

Mal acostumadas com o tudo ter

Quando a vida mostrar a real como o menino vai proceder?

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 05/08/2024
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