AS DESVANTAGENS DE PREVER O FUTURO

De vez em quando, principalmente no final do ano, aparecem alguns videntes prevendo o futuro, em especial no que se refere a famosos e a situação do país e do mundo.

Esses videntes acertam? Ouso dizer que eles chutam, com chances de acertar uns 10 por cento e por isso ficam famosos entre os ingênuos e os crédulos que acreditam nessas balelas.

Da mesma forma, o tarô e o baralho das ciganas fazem essas previsões e alguns acreditam piamente.

Alguns crentes acreditam que a Bíblia previu muitas das catástrofes que hoje nos assolam. O que não está longe da realidade, ainda que seja necessário acrescentar que a Bíblia foi escrita por seres humanos, propensos a falhas, embora supostamente inspirada por Deus. Mas não vou entrar nessa discussão, pois não possuo argumentos suficientes para propor um debate. Quem crê na Bíblia que faça bom uso dela, desde que não seja para disseminar a intolerância por aqueles que não rezam pelo mesmo credo, como temos visto muitos líderes religiosos fazerem.

O que eu quero propor é a seguinte reflexão: se formos acreditar nas previsões dos videntes e outras variações do gênero, qual é a vantagem de saber antecipadamente o que o futuro nos reserva?

Se for coisa boa que vem por aí, vai estragar a surpresa de ser surpreendido por uma alegria inesperada. Se for coisa ruim, vamos sofrer antes do tempo um infortúnio que virá. E tome dor de estômago para nos atazanar.

Acho que foi Paulo Coelho que escreveu alguma coisa sobre esse tema.

Em todo caso, não vejo vantagem nenhuma em antecipar as coisas que ainda virão. É claro que não creio em videntes, mas como diz o ditado: eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem. Por via das dúvidas, prefiro contar com o benefício do inesperado, seja ele bom ou nefasto.

Já recebi notícias ruins, coisas desagradáveis já me aconteceram. Em contrapartida, já fui surpreendido por novidades ótimas que me salvaram na última hora, como um dinheirinho na minha conta quando eu andava seco dos pilas.

Foi o livro de Eclesiastes que, entre outras coisas, disse que no momento em que as coisas estão ruins, algo de bom acontece. O contrário também é verdadeiro: depois de muita bonança, algo de desagradável acaba acontecendo. É a lei da vida, que o livro bíblico antecipou a sei lá quantos milhares de anos atrás.

Mas é ruim antecipar o desespero ou estragar a surpresa de uma notícia boa.

Por isso, nada tenho contra os videntes e profetas de plantão. Mas me resguardo o direito de não consultá-los: vá lá que eles acertem o chute!