Descarte
Descarte
Estou de férias. Vendi dez dias. Mesmo juntando com um terço a mais do salário normal que recebi pelo gozo de férias conforme me assegura a Consolidação das Leis Trabalhistas, a grana não deu para chegar ao vigésimo dia. Portanto, agora sem dinheiro, estou sofrendo férias. Sabe aquele ditado: ora falta a taça ora falta o vinho. Pois é, tenho tempo disponível, mas não tenho como pagar passagem e hotel para fazer turismo.
Para não ficar ociosa resolvi arrumar meu guarda-roupa. Tanta roupa que não uso mais. Umas apertadas, outras fora da moda, outras surradas. Fiz um bolão para doar.
Depois fui para minha sala de estudo. Quantos livros didáticos que não utilizo mais. Quantas revistas tomando espaço, quantas livros que já li e sei que não abrirei nem mais para folhear. Fiz um enorme pacote. Vou averiguar quem gostará de fazer uso deles.
Fui para cozinha. Pratos, copos, talhares, panelas, entulhadas. Já foram substituídas por novas peças, mas continuam lá sem serventia. Acho que alguém pode necessitar.
Abri meu computador. Quantos e-mails antigos. Lidos e relidos, mas continuam enchendo a caixa. Deletei a maioria. Adquiri mais espaço.
Acho que vasculhei tudo. Casa arrumada, limpa, leve. Breve retornarei ao trabalho. Deixarei tudo em ordem. Férias de novo só daqui a 12 meses, onde farei novo descarte.
Será que não faltou organizar nenhum dos aposentos? Será que deixei tudo mesmo em ordem para recomeçar minhas atividades? Tenho ainda algum tempo disponível.
Ah! Sei como aproveitar essas horas que me restam. Falta fazer uma vistoria em meu coração. Vou fazer um pacote de todas as mágoas que tenho das pessoas e jogar no lixo. Vou descartar a ira, o ódio, o desamor, a inveja, a perseguição. Vou deixar meu coração leve, tranqüilo em paz, para deixar espaço para o amor, carinho, afeto, ternura, amizade.
Ufa! Que descarte. Mas sei que vou recomeçar feliz.