RABISCOS NO PAPEL.

O silêncio profundo na manhã de domingo...

O silêncio profundo... Nada parece se importar, enquanto todos se tornam ausentes, distantes, apenas o frio soprando por debaixo das portas, nas frestas das janelas, em cada canto. Eu também sou inconstante, e de repente, me vejo sem lugar... Talvez seja o abismo existencial me corroendo por dentro, o tempo todo, todo o tempo.

O Silêncio profundo continua em seu mergulho no oceano de palavras que nunca foram ditas. O beijo quente que nunca aconteceu, o perfume suave, o toque mágico, quente, ardente, que me enlouquece todas as vezes. A vida tomou o palco das nossas mentes fantasiosas, mentes insanas, e a fantasia por sua vez, fez da vida um teatro de sombras.

É domingo.

Silêncio.

Nada podemos dizer, entretanto, no palco da imaginação tudo podemos fazer. O café está servido. Derramo um pouco em minha xícara, o vapor da fumaça subindo, tremulando, dançando, rodopiando diante de meus moribundos olhos. Bolachas, pães, pizzas do dia anterior, degustar o café quente, saboroso. Talvez seja esse o destino, mas, afinal, existe mesmo o destino? Seria ele o responsável por criar tudo a seu bel prazer? Às vezes penso que, nós somos os sabotadores do tempo e da vida, tanto das lutas quanto das derrotas acumuladas. Não quero ficar pensando em meus desgraçamentos, na minha vivência maluca e sem sentido. Poeta da solidão que eu me tornei nestes anos. Tendo apenas o sorriso de uma admiradora, os olhinhos ligeiramente puxados debaixo de um gracioso óculos, filha de Júpiter, jovial, sempre atenta com o que escrevo.

O silêncio profundo na manhã de domingo, os pássaros cantam do lado de fora, a natureza festeja, os homens choram, somos o que desejamos ser, mas, aquilo que desejamos ser não corresponde com o quê de fato deveríamos nos tornar.

Somos sucessivos aos erros e tentativas, até que haja um ponto certo na imensidão das nossas falhas. Livra-nos ó Deus, livra-nos de nossos eus, de "meus eus", é domingo, finalmente, silêncio momentâneo.

Me sirvo de café pela segunda vez enquanto escrevo essa crônica, à fumaça bailarina sobe rodopiano, o cheiro gostoso do café invade as narinas. Sentado em uma cadeira, estico as pernas para alcançar a outra, 'é minha posição preferida', sigo na incessante busca de qualquer coisa que alegre o coração, e que também diminua a dor da alma.

É dia de folga,

Portanto, angústia seguida de descanso e consequentemente, angústia após o descanso, uma vez que, 'minha ansiedade', o meu sofrer 'antecipadamente', me faz triste, menor a cada dia. Não desejo me alongar, o muito falar causa enfado, ainda está silêncio… Ah, que pequeno paraíso terrestre, pena que, daqui a pouco, será maculado com o som de uma cidade que acorda enfurecida.

Com pressa…

Vamos, andem…

Estou atrasado…

Buzinas para todos os lados...

Sai da frente…

É a cidade despertando, os vizinhos brigando, assim continua o movimento de cada dia. Quisera eu as glórias passadas, os meus dias de infância na fazenda Lindóia, em cima do pé de jambo, o tempo áureo aprisionado na memória… O tempo não volta mais, nunca mais caríssimos, nunca mais....

Contudo, o meu tempo nunca mais será logo ali na próxima esquina, ou em qualquer outra ,aliás, quem sabe, se dessa vez o destino não me valer, meu silêncio se tornará profundo e eterno, e as minhas palavras serão apenas rabiscos no papel.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 04/08/2024
Reeditado em 04/08/2024
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