Baile do Parafuso

Baile do Parafuso:

Quem leu o livro Panela de Crônicas (Editora Stévia) deve se lembrar da primeira crônica do livro. Com o título Santa Maçanilha, explano sobre uma pequena cidade na qual se realizou o Baile do Mijão. Resumindo: você pagava apenas o ingresso e bebia de graça até o primeiro mijão ir ao banheiro.

Um amigo, depois de se deliciar com a história ali relatada sobre o tal baile, comentou comigo.

- Arão porque tu não inventas outra crônica com o título Baile do Parafuso?

- Não posso fazer isto porque aquilo foi verídico. A única coisa alterada foi o nome da cidade, por motivo que só a mim diz respeito.

Confabulamos qual seria sua ideia e fiquei de pensar no caso.

Como estava recém-separado, interessei-me pelo assunto e passei a viajar nos finais de semana para lugarejos, vilas e cidades pequenas para ter novas aventuras, captar e contar o que acontecia nesse grande interior brasileiro.

Na primeira semana já me deliciei com algo que para mim era inusitado: Baile do Cafona.

Não me senti deslocado porque de qualquer maneira carregamos conosco um pouco de cafonice, uns mais e outros menos. As moças poderiam até estar vestidas de maneira não convencional, mas eram bonitas para caramba. Foi uma festa onde a diversão não tinha idade, e na qual parece que toda cidade compareceu.

No segundo final de semana fui para as bandas do norte e estive no Baile das Peruas. Nesse baile as mulheres não pagam a entrada. O privilégio é só delas sendo que nós, homens, somos obrigados a marchar com o dinheiro do ingresso. Valeu a pena, porque descolei uma mulher que não tinha nada de perua e sim de uma linda gata.

Vida de solteiro com experiência e dinheiro, libera o homem que não precisa dizer onde e com quem foi ou andou no final de semana. Com essa liberdade desloquei-me para o interior gaúcho, já que estava no oeste catarinense e precisava só levar o carro para o outro lado do rio, através de uma balsa. A festa escolhida foi o Baile do Ridículo.

Dessa vez me decepcionei, porque esperava uma coisa e era outra bem diferente. O arrasta-pé em si era um desfile das mais variadas fantasias, quase sempre proporcionadas pelas mulheres. Tinha moça com peruca da Marge Simpson, outra bebia numa lata de achocolatado e todas com perucas de cores variadas. Os homens não estavam tão extravagantes, mas exibiam roupas que pareciam estar num carnaval fora de época. Senti muita vergonha, pois estava com roupa de domingo e não esperava aqueles comportamentos e vestimentas inusitadas. Fui embora cedo. Sei que para a maioria estava excelente, pois sabiam o que era e se preparam bem.

Depois desse baile nada convencional passei a acompanhar os mais conhecidos como Baile da Terceira Idade, Baile de Formatura e Baile de Debutantes.

Dei uma parada nas orgias de final de semana até que alguns meses depois fui visitar um amigo no Paraná na cidade de Ivaiporã. Para minha grata surpresa naquele final de semana, numa cidade próxima, Lidianópolis, aconteceria o Baile do Parafuso. Não contei tempo, aliás, contei para meu amigo sobre a história que queria inventar e que não mais precisaria, pois ela ia se realizar. Fomos, superanimados. Na entrada do salão haviam dois sacos enormes, um com porcas e outro com parafusos. Mulheres pegavam uma porca e os homens um parafuso. Durante todo baile iam tentando encaixar um no outro, o casal que conseguisse podia dançar até não poder mais, ou somente uma marca, se um não fosse com a cara do outro. Deu para reparar que só tinha pessoas solteiras, sem compromisso. Aquele ou aquela que não se enquadrasse com o parceiro não podia dançar com outra pessoa. O baile pegando fogo e nós tentando encaixar porca e parafuso. Esse baile estava muito divertido, conhecemos centenas de pessoas e consequentemente acabamos criando várias amizades.

Independente do tema, o negócio era entrar no espírito da brincadeira e se divertir muito. O inesperado estava para acontecer. Tinha mais homem que mulher. Meu amigo encontrou seu par e eu nada de conseguir. Quando vi que não sobrou mulher sentada, todas estavam dançando, fui para o bar beber um pouco. Apareceram na minha frente três sujeitos com porcas na mão querendo introduzir no meu parafuso. Pedi licença, disse que ia ao banheiro e que voltaria para ver com qual deles iria dançar a noite inteira e sumi. Fui embora de taxi, já que fui de carona com meu amigo.

No outro dia contei para ele que riu da minha falta de sorte, já que naquela noite ia se encontrar com a garota da porca perfeita.

Aroldo Arão de Medeiros

29/09/2011

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 03/08/2024
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