Baeta
Baeta
Meu pai falava no Baeta com um ar de admiração. Aos poucos fui identificando a pessoa e o motivo porque meu pai seguia seus passos. Eu considerava meu pai o melhor pistonista da cidade. Já meu progenitor rasgava elogios ao músico da banda rival. Baeta era um negro simples, simpático e nada fanfarrão, como os seus colegas de banda.
Eu pensava que a palavra baeta fosse um apelido que se dava aos descendentes dos africanos. Só com o tempo é que percebi que era o seu sobrenome, o qual todos os filhos carregavam com orgulho. Paulinho Baeta, assim como meu pai, trabalhou no Porto. Foi um dos fundadores da Escola de Samba Brinca Quem Pode, enquanto meu pai ajudou a fundar a saudosa Mangueira. Como eu já disse, eles tocavam em orquestras diferentes, o Paulinho, na Sociedade Musical União dos Artistas e meu pai, na Sociedade Musical Carlos Gomes, ambas de Laguna, SC. Nos bailes de salão do período de Carnaval, o Paulinho Baeta fazia parte da banda Jazz Catarinense e do Conjunto Kasbah, ao passo que meu pai gastava o fôlego no pistão do Conjunto da Carlos Gomes.
Hoje fui procurar no Aurelionário, dicionário do Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o que quer dizer a palavra baeta.
Para meu espanto existem vários significados para este vocábulo oriundo da França. Citarei somente o que mais se encaixa num dos personagens. É o nome dado ao adepto ou admirador da Sociedade Carnavalesca Tenentes do Diabo.
Sugiro então que todos os torcedores do Brinca Quem Pode, de Laguna, sejam chamados de baetas.
Continuando a ordem cronológica da vida, meu filho aprendeu muito a ciência da qualidade com um homônimo do simpático e saudoso Paulinho. Este, Antônio Baeta, segundo informações de meu primogênito, é de tez clara, é muito competente no trabalho e esbanja simpatia. A troca de conhecimentos na atividade profissional fez com que um ficasse fã do outro. Em qualquer situação um dá a mão ao outro, não deixando nunca o amigo em apuros.
Para meu pai serve a frase: Bem Aventurado Este Trompetista Anônimo. Para meu filho, tudo se resume em: Boa Aproximação Edifica Toda Amizade. Só sei uma coisa: todos os Baetas são fortalezas vivas e devem ser imitados por nós, que admiramos a arte e o trabalho.
Nota do autor: Depois de publicada na 1ª Edição do livro Panela de Crônicas, eis o depoimento de André Reis, filho de Paulinho Baeta:
Na pia batismal recebeu o nome de Paulo Tibúrcio dos Reis.
Contava meu pai, que sua mãe, a avó Emília, costuma fazer para os filhos, roupas de um tecido muito resistente, Manoel, Antônio (Cacique) e Paulo.
Como esse tecido era conhecido como “Baeta” e o único à época capaz de “aguentar o tranco”, suportar as peraltices dos três meninos, o pai e os irmãos acabaram ficando conhecidos como os “Baetas”.
Aroldo Arão de Medeiros
O9/04/2006