DIÁRIO DE UM CORDELISTA
O sol raiava, vermelho e cansado, sobre a poeira da estrada. O vento, um moleque travesso, brincava com as folhas secas, fazendo-as dançar um bailado melancólico. Eu, o cordelista, sentado na beira do caminho, com o meu bloco de papel e o lápis de carvão, aguardava a inspiração.
A vida, meu amigo, é como um cordel: cheia de reviravoltas, de alegrias e tristezas, de amores e desamores. E eu, com a minha pena, tento tecer os fios dessa trama, pintando a realidade com cores vibrantes, mas sem esquecer as sombras que a acompanham.
Hoje, a inspiração me visitou, mas não veio vestida de seda e veludo, como nas canções de amor. Ela chegou com o cheiro de terra molhada, com o canto rouco do beija-flor, com a dor da saudade que me aperta o peito.
Escrevi sobre o meu pai, homem de mãos calejadas, que lutou contra a seca e a fome, sem nunca perder a esperança. Escrevi sobre a minha mãe, mulher de alma forte, que me ensinou a amar a vida e a poesia.
Escrevi sobre a minha infância, pobre, mas rica em sonhos e aventuras. Sobre as brincadeiras na rua de terra, sobre as histórias que ouvia à noite, sobre a magia que me envolvia.
Escrevi sobre o amor, esse sentimento que me faz sonhar e me faz sofrer, que me eleva ao céu e me joga no inferno. Sobre a amada que me deixou, levando consigo a metade da minha alma.
Escrevi sobre a solidão, essa companheira fiel que me acompanha em meus momentos de angústia. Sobre a tristeza que me invade, como um rio que transborda, inundando meu coração.
Escrevi sobre a esperança, esse fio tênue que me mantém vivo, que me faz acreditar que um dia a felicidade me encontrará. Sobre a fé que me guia, que me dá força para seguir em frente, mesmo quando o caminho é tortuoso.
Escrevi sobre a vida, meu amigo, sobre a beleza e a dor, sobre a alegria e a tristeza, sobre o amor e a solidão. Escrevi sobre tudo o que me faz ser quem eu sou, um cordelista, um poeta, um homem que busca a verdade nas entrelinhas da vida.
O sol se punha, tingindo o céu de tons alaranjados. E eu, o cordelista, guardava o meu bloco de papel e o lápis de carvão, pronto para mais uma jornada, pronto para tecer novas histórias, pronto para continuar a escrever o meu diário, o meu cordel.
E assim, meu amigo, a vida segue, como um cordel que se desenrola, revelando a beleza e a dor, a alegria e a tristeza, o amor e a solidão. E eu, com a minha pena, tento captar cada nuance, cada emoção, cada instante, para que a história da vida não se perca no tempo.