saudades do ciclismo da minha vida

Eu pensava ser tão impotente com minha bicicleta, lá pelos meus 15-16 anos. Com todo tempo do mundo, preocupações ínfimas, devaneios absurdos e uma cidade plana inteira para explorar. Mal sabia que o árduo processo de tirar a carteira de motorista aos 18 anos não traria benesse alguma. Até ônibus que eu pegava para ir à escola tinha uma sensação diferente do carro que conduzo para a faculdade.

Pensei em relatar tal sentimento, é claro, presa em um trânsito infernal do trabalho para casa. Aquele bando de luzes vermelhas e sinfonias de buzinas e xingamentos, péssimas notícias e jingles nas estações de rádio devem ser em algum lugar do inferno uma cena repetitiva de tortura. Isso após horas presa em frente à um computador limitando minha criatividade em atividades repetitivas e obsoletas em uma posição desconfortável isso, claro, por uns trocados para ter ínfimos prazeres virtuais ao adquirir mercadoria de outro lado do planeta, fabricadas por pessoas com trabalhos e pagamentos ainda mais degradantes e sem sentido que o meu.

Que liberdade é a de não ter a liberdade prometida ainda!

Nos sonhos futurísticos somos tão felizes e irresponsáveis. No presente podemos errar e ousar mais.

Pego minha "magrela", toda jeitosa e retrô de marca americana e fabricada também na China e vou desbravando as ruas, sentido o vento no corpo, ouvindo o canto dos pássaros e sentindo o perfume das flores.

Com meus amigos, igualmente sem dinheiro e responsabilidade eu ouso ir mais longe, vou até a cachoeira mais próxima da cidade, como comida sem nutriente e sabor, improviso churrasqueira à beira do rio, descasco uma mexerica. Compartilhamos sonhos e aventuras vindouras. Penso em amores que não vivi, viagens que não fiz, festas que não fui, gente que não conheci e desilusões que ainda não passei.

Poucos anos dali eu já tenho uma carga tão diferente. Visões tão mais realistas e menos otimistas.

Somos livres até que nos provem ao contrário.

E eles provam.

Serei eu sempre oprimida de sonhar? Tornar-me-ei opressora para os alcançar?