Lá estava ela, quieta e solitária, numa soleira qualquer há alguns dias. Sentia o tempo passar, do calor afiado ao frio cruel sem expressar qualquer reação. Estava impávida e lá ficaria até o fim dos tempos, se assim a permitirem. Quem sabe foi esquecida, quem sabe foi jogada, quem sabe surgiu do nada, caída do colo de algum anjo desatento. Algumas pessoas a avistavam de longe um tanto indignadas por estar simplesmente lá. Talvez fosse capaz de dar um basta na fome de alguém e isso a afastaria do fim. Qual destino estaria reservado a ela? Esperar que seque, se desfaça podremente e seria levada a um lixo frio e insensível? Ou aquele possível anjo perceba a sua falta e retorne para levá-la e os dois, juntos, cumpririam a missão que lhes fosse incubida.