Me corre nas paredes da memória aquele velho prédio onde achei que seria feliz. Entre duas avenidas movimentadas, de frente a um semáforo, por vezes os carros passavam apressados contando os últimos segundos para fechar, alguns passavam com êxito outros eram obrigados a parar diante da luz vermelha. Da minha janela olhava as vidas dentro dos seus automóveis, em alguns momentos paravam um ou outro ônibus, tantas pessoas, tantos jeitos de viver. Me faltava algo naquela situação toda, acendia meus cigarros e lançava a fumaça para o céu, tudo fora da minha janela se completava de alguma forma, mas do lado de dentro eu via a mulher que tanto amei sentada no sofá, e de uma forma triste não estávamos completos.
Pouco tempo depois deixamos o velho prédio, nos mudamos para tentar salvar a nós mesmos, por pouco deu certo, um novo apartamento alugado, outra chance de reafirmar os corpos perdidos, de um amor que em algum momento da vida foi avassalador. E a terrível certeza da falha. Apesar de ser um lugar que nunca antes estivemos, algo em comum se destacava ambos tinham o mesmo número, apartamento 102. Pouco tempo depois ela foi embora, eu fiquei. Se acreditasse em misticismo diria que era nosso número do azar.