Improvável, mas escolhida!

Eu sou professora, hoje aposentada. Vinte e quatro anos atrás, eu trabalhava numa escola particular no turno da tarde com Alfabetização e numa escola estadual no turno da manhã com Educação Infantil. Com dois filhos estudando e à espera pela adoção de uma menina, sim, eu desejava ardentemente ser mãe de menina, eu me considerava uma mulher feliz e realizada.Tinha um marido a quem amava e que pensava ser amada, dois filhos maravilhosos que estavam na adolescência sem apresentar problema algum inerente a esta fase, enfim, tudo transcorria sem altos e baixos na minha vida. Meu maior problema era a espera da minha filha. E ela chegou. Com quinze dias neste mundo, chegou na nossa casa, linda e empoderada, pois foi logo conquistando a todos e invadindo nossos corações sem pedir licença. Éramos uma família feliz.

Sabia pouco sobre Autismo, embora tivesse feito o curso de Psicopedagogia.

Laura começou a nos preocupar aos dezoito meses, porque sua fala nunca passava de dez palavrinhas que eram substituídas por outros novas sem que houvesse um acréscimo de vocabulário. Quando completou dois anos recebemos o diagnóstico de Autismo. Foi como se houvesse passado um terremoto em nossas vidas. Não esperava por isto. Se Deus me perguntasse se eu seria capaz de educar e amar uma menina autista, certamente responderia que não. Eu nada sabia sobre Autismo! Eu seria a mãe mais improvável para educar um autista. Era o que pensava. Mas ainda assim, fui escolhida! E preparada à força. Durante nove anos fui aprendendo a lidar com uma linda e complicada menina autista. E durante este tempo pensei estar numa louca montanha russa onde minhas emoções variavam do riso ao choro. Havia porém, um componente que me salvava da loucura: meu imenso amor por esta menina morena de cabelos cacheados que Deus me colocou nos braços e disse "Toma, cuida, educa e ama!

Meu histórico de vida me tornava a mais improvável mãe de um autista, mas mesmo assim, fui escolhida. Hoje, Laura tem vinte e quatro anos, não fala e é totalmente dependente. Somos muito amigas, nos amamos e eu a conheço bem, pois a comunicação dela é muito diferente de qualquer outra. Mas eu a conheço e sou também dependente dela. Nem me imagino sem ela. Não é biológica, mas é um pedaço de mim.

Quando saio sem ela, meu pensamento está sempre nela. Ela fica com o pai que a ama também incondicionalmente, mesmo assim, fico inquieta. Adoro sair, passear, sei que preciso disso, mas na hora marcada volto para casa tão feliz quanto estava ao sair para passear!

Eu era improvável, mas fui escolhida!