Das minhas paixões
A magia do existir...
Sem saber. Antes de tudo era uma ânsia pelo amanhecer, quando eles diziam que cedinho iríamos sair, para onde eles iam juntos me levavam, sempre.
Depois era o percurso, sem sol ainda, os caminhos fininhos e curvas tantas, a areia, aqui e ali, córregos, onde era gostoso sentir os pés se molhando em águas transparentes, a areia clara, molhada prensada, e de todo lado era mato, era flor (flor dos matos) cheirosas, e as flores do Pajeú caíam devagar sobre a minha cabeça, eu fechava os meus olhos de felicidade, era a coisa mais linda a nossa vida real, não era sonho...
e os passarinhos? Esses mesmos que nos recebiam com tanta euforia, parecendo saber que enfeitavam a minha infância e se perpetuariam em minha memória, causando esse encanto que a minha alma hoje acalenta. Sou louca por pássaros, acho a coisa mais linda!
Sempre tive essa grande paixão pelos rios, pelo verde das matas e pelos pássaros...
Às vezes eu ficava tonta de tanto observar o rio, achava que a qualquer momento o rio ia me carregar para longe, eu gostava de ficar imaginando indo com as incansáveis águas... passando pelas pedras banhadas infinitamente, era um verde lodo, o limo das outras pedras, à margem, era a relva, o capim baixo, encharcado pelo excesso do volume das águas, que o leito não suportava...
Essas lembranças dos meus pais, e enquanto eles em silêncio pescavam, eu ficava sentada em alguma pedra, na minha solidão dos inocentes, imaginando milhões de coisas, olhando as águas e por aquele mundo inteiro, encantada.
Não me recordo que senti medo algum dia, com eles... e nós atravessávamos para o outro lado do rio, era um desbravar! E pensar que tudo aquilo ficava no final da nossa rua, havia uma emoção que eu não sabia dizer, era a espera por um futuro que eu criava sem saber o que pedir, a sensação de vida, e certeza da proteção deles, e ao mesmo tempo de liberdade, dessas que na alma se entranha, e se torna parte da coleção das minhas paixões, rio, passarinho e liberdade.
Tantos anos se passaram e se eu volto ao velho rio, sinto tudo igual, o que já não existe é aquela antiga esperança, hoje é muito mais saudade, coisas que guardo calorosamente na lembrança, junto as águas do rio escorre as minhas lágrimas, por ter sentido tanta felicidade.