Lucros Invisíveis
Na correria dos dias, entre as obrigações do trabalho e as responsabilidades que se amontoam, muitas vezes nos esquecemos de olhar para além dos números que surgem nas telas dos nossos computadores. Vivemos em uma época em que o sucesso é frequentemente medido por cifras, onde o lucro parece ser a única métrica que importa. Porém, existem lucros que não aparecem nas planilhas, que não podem ser convertidos em dividendos ou ações. São os "lucros invisíveis", aqueles que enriquecem a alma e nos lembram do que realmente importa.
Eu estava sentado em um banco de praça, algo raro na minha rotina habitual de cidade grande, quando fui invadido por essa reflexão. À minha volta, crianças brincavam despreocupadas, rindo de uma maneira que só quem ainda não conhece o peso das responsabilidades consegue rir. Os pássaros cantavam, criando uma trilha sonora que passava despercebida por muitos, mas que para mim soava como um lembrete de que a vida é mais do que prazos e metas.
Ao meu lado, um casal de idosos conversava animadamente, relembrando histórias de um tempo que parecia distante. As rugas em seus rostos não eram marcas do tempo que passou, mas sim mapas de uma vida cheia de experiências, risos, e lágrimas. Eles não falavam de bens materiais ou de contas bancárias. Falavam de viagens que fizeram, de amigos que encontraram ao longo do caminho, e dos netos que enchiam suas vidas de alegria. Ali, percebi que o verdadeiro lucro estava naqueles momentos simples, mas inestimáveis, que moldam a essência do que somos.
No mundo corporativo, frequentemente vemos frases como "tempo é dinheiro", mas esquecemos que o tempo também é vida, é experiência, é memória. Gastamos tanto tempo correndo atrás de metas financeiras que deixamos de valorizar os pequenos instantes que nos fazem realmente ricos: um café da manhã com quem amamos, um passeio sem rumo num fim de tarde, ou simplesmente parar para olhar o pôr do sol. Esses momentos não têm preço, mas são os que realmente importam.
Pensei na minha própria vida, em quantas vezes escolhi ficar um pouco mais no escritório em vez de ir para casa cedo e jantar com minha família. Quantas noites troquei horas de sono por relatórios que hoje já estão esquecidos no fundo de uma gaveta. Naquele banco de praça, compreendi que os lucros invisíveis são aqueles que não podem ser medidos em termos monetários, mas sim pela quantidade de felicidade e paz que trazem para nossas vidas.
Levantei-me, sentindo uma estranha leveza que não vinha da ausência de peso, mas da presença de algo que eu não sabia que estava perdido: a clareza de que a verdadeira riqueza está nas coisas simples. Talvez esse seja o maior ensinamento que podemos aprender: que precisamos parar, respirar e valorizar cada segundo. Afinal, a vida é feita de momentos, e é neles que estão os verdadeiros lucros que não se encontram nas páginas de um balanço financeiro.
Ao retornar para casa naquela noite, decidi que estava na hora de dar mais espaço aos lucros invisíveis em minha vida. A partir daquele dia, prometi a mim mesmo que iria valorizar mais cada momento, cada sorriso, cada história contada. Que iria buscar a felicidade não nos bens materiais, mas nas experiências que enriquecem a alma. Porque no final das contas, são esses os verdadeiros lucros que levaremos conosco.
E quem sabe, ao final da nossa jornada, possamos olhar para trás e ver que fomos verdadeiramente ricos, não pelo que acumulamos, mas por tudo aquilo que vivemos.