O trem que já vem

É madrugada. No silêncio das horas, a inspiração.

A máquina de escrever, companheira de outrora, agora num canto qualquer da sala do tempo, sobre a escrivaninha guardada no aconchego da lembrança.

Não há mais o cesto ao lado da escrivaninha; nem os papéis embolados, rabiscados, lançados pelas mãos aflitas em busca de um ponto que consagrasse o sabor do triunfo de um pensamento, de um mote, de uma inspiração.

O som dos teclados em movimento confundia-se com o barulho do trem que costumeiramente, sem pedir licença, passava deslizando-se sobre os trilhos, rasgando o silêncio da madrugada.

Hoje em dia, o trem continua prosseguindo pelas madrugadas; entretanto, sem o charme do barulho de antes, devido, quiçá, ao aumento das construções civis em torno das linhas férreas e às confusões no trânsito, como de costume.

E eu, de minha parte, continuo escrevendo, rasgando as madrugadas, desta vez de frente de uma tela, em busca de um pensamento, de um mote, de uma inspiração..., sem o auxílio do inesquecível cesto, com os papéis embolados dentro ou fora dele, na espera do apito, aparentemente longínquo, do trem que já vem...

Yé Gonçalves
Enviado por Yé Gonçalves em 31/07/2024
Código do texto: T8118674
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