No barquinho de papel a navegar...
Quando criança, nos dias de chuva, gostava de fazer barcos de papel e colocá-los a navegar no canto da calçada de casa, ou da rua. Aos poucos, os barquinhos feitos de folhas de caderno ou de jornal, superavam os obstáculos. Observava com curiosidade a forma com que eles venciam na “correnteza”, as pedrinhas e pequenos galhos de árvores... Em sua curta viagem os barcos de papel iam se desmontando, perdendo as cores vermelha e azul com as quais desenhava as escotilhas... fugaz desconstrução.
Assim como, os pequenos barcos modificam-se, devido a sua fragilidade, muitas pessoas transformam-se ao longo da vida, resultado em parte, das decepções e perdas a que são submetidas. A fragilidade dos seres pode ser percebida em seus olhos, através de lágrimas ou um olhar sem esperanças, e em seus gestos ou postura que refletem desânimo, tristeza e a temida depressão. Dependendo da situação, e da sensibilidade, a alma e o coração da pessoa ficam fragmentados como um delicado copo de cristal que, ao ser quebrado em inúmeros pedacinhos, perde a unidade o equilíbrio.
Há muita reflexão e beleza na fragilidade. A primeira, porque nos faz refletir sobre a importância de valorizar cada segundo de vida, a segunda porque nos faz demonstrar emoções sem a proteção de máscaras. Como não admirar a fragilidade e beleza contida na suavidade de um beija-flor, na pétala de uma rosa, de uma violeta, no colorido das folhas de outono ou nas gotinhas que deslizam na janela, em um fim de tarde de inverno?
. Primeira publicação: 27/07/2014
. Segunda publicação reeditada: 30/07/2024
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https://www.youtube.com/watch?v=m1KsrVesZpo
O Barquinho · João Gilberto