Distância

Era uma vez dois corações separados por uma linha imaginária de 600 quilômetros, mas que se encontravam na mesma frequência de sentimentos. Ela estava em uma cidade onde as ruas eram cercadas por montanhas, e ele em outra, onde o vento soprava dos mares. A saudade era um visitante constante na casa de ambos, um fantasma que vagueava por entre pensamentos e suspiros. Não importava a quantidade de mensagens trocadas, chamadas feitas ou cartas enviadas, a saudade sempre encontrava um jeito de se esgueirar por entre as frestas dos dias.

No entanto, eles descobriram um segredo sobre a distância. Perceberam que, embora o corpo físico não pudesse estar presente, o amor tinha o poder de transcender barreiras. Ela começava o dia imaginando o cheiro do café que ele preparava todas as manhãs, enquanto ele podia ouvir, em sua mente, o riso dela como um sopro suave em seu ouvido. Eles criaram um mundo onde estavam sempre juntos, mesmo quando os relógios marcavam diferentes fusos horários.

As videochamadas se tornaram janelas mágicas, portais onde eles podiam se olhar nos olhos e partilhar a mesma lua, ainda que de ângulos diferentes. Nos momentos de silêncio, era possível sentir o calor do outro como um cobertor invisível, envolvendo-os em segurança. E nos dias mais difíceis, quando a saudade insistia em ser mais pesada, eles aprenderam a abraçar essa ausência como um lembrete do quão profundo era o amor que os unia.

A tecnologia, por mais que muitos a vejam como uma barreira fria, era a ponte que eles tinham. Cada mensagem era como um pequeno barco de papel navegando no vasto oceano da distância, levando palavras de conforto e promessas de reencontro. Com o tempo, aprenderam a cultivar um jardim de memórias compartilhadas, onde podiam revisitar os momentos passados e plantar novas esperanças para o futuro.

A saudade, que inicialmente era vista como um monstro assustador, transformou-se em uma velha amiga que apenas reafirmava a importância de estarem juntos. Era um lembrete constante de que o amor verdadeiro não se mede pela proximidade física, mas pela capacidade de sentir o outro em cada batida do coração. Assim, dia após dia, eles alimentavam a chama desse amor com as lembranças e promessas que construíam, como tijolos de uma ponte sólida e indestrutível.

E foi assim que eles descobriram que a distância não é a vilã da história, mas sim uma professora. Ela ensina a arte de valorizar cada momento e a força de manter viva a chama da esperança. Mostra que o amor é uma força poderosa que não se curva a meros quilômetros, e que a saudade é apenas um reflexo da profundidade desse sentimento.

Porque, no final, o amor verdadeiro encontra maneiras de se fazer perto, mesmo quando parece impossível. Ele é como o vento suave que leva palavras de carinho de um canto do mundo ao outro, como o sol que aquece duas cidades distantes ao mesmo tempo. E é assim que eles aprenderam a engolir a saudade, saboreando-a como parte de uma jornada que os leva, um dia, de volta para os braços um do outro.

Assim, eles seguem, construindo sua história, onde a distância se torna apenas um capítulo, e o amor, o enredo principal.

Marco Antônio Costa
Enviado por Marco Antônio Costa em 30/07/2024
Código do texto: T8117996
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