40 anos de Carlos Patrício

Como é fato que o LP Vertente foi lançado em 1986, também é verdade que foi gravado entre outubro de 1984 à março de 1985 em Porto Alegre, pela Musicarte. Assim, da gravação de seu primeiro registro em vinil para o lançamento nas redes sociais e em CD de Revertério agora em 2024, passando pelo CD Subvertendo em 1996, já são 40 anos de carreira fonográfica do cantor e compositor charqueadense Carlos Patrício, há anos radicado em São Paulo.

 

Escrevo hoje após receber, na última sexta-feira, o CD Revertério, sobre o qual já havia feito um texto em janeiro deste ano (Carlos Patrício: recordar (reverter, subverter e verter) é viver o presente e projetar o futuro), informando acerca do seu financiamento coletivo via Catarse. A relação de trilogia entre Vertente, Subvertendo e Revertério foi mencionada pelo próprio músico em seu show justamente intitulado Revertério, em 2016, em Charqueadas, já informando que esse seria o nome de seu próximo registro gravado, "pois é revertendo e remexendo no conhecido que surgem novos caminhos a desbravar".

 

Assim, em Revertério, temos É Poesia e Piazada, respectivamente regravações de canções do LP Vertente e do CD Subvertendo. Uma delicia, como fiz neste final de semana, comparar as primeiras versões com as de Revertério. É Poesia (canção também regravada pelo cantor Alberto André no CD Bem Simples - 2006) está agora, diria, mais rock'n roll, sob a base vigorosa e rápida dos violões de Carlos Patrício e Quincas Vasconcellos. A letra é ótima: "Não queiras saber o que penso Nem leve em conta o que eu faço Não me pergunte o que sinto Nem venha seguir os meus passos Não faça nada por mim Não me procure Eu não existo Fantasma de carne e osso Eu sou mera fantasia Não acredite no que eu digo É mentira Não leve a sério o que canto Não é verdade É poesia". Uau syl! Piazada fica a cargo da interpretação vocal de Marcelo Delacroix: "“Mas a vida é assim mesmo, viu Os veio dão lugar pros moço E os fio deles vão da trabaio pr'eles também”. Baita verdade, né?

 

Revertério, além dos acima citados, tem as participações especiais de Alexandre Vieira (póstuma), Mário Falcão, Johann Alex de Souza, Pablo Lanzoni, Michelle Cavalcanti, Sebastián Jantos e Marcos Saraçol. Aliás, algumas parcerias vem de longa data: Vieira e Souza igualmente participaram de Vertente e Subvertendo, sendo que Subvertendo também contou com a contribuição musical de Mário Falcão. As gravações foram realizadas em 2021 em Porto Alegre e São Paulo e em 2023 em El Pinar (Uruguai) e em Canoas/RS. O álbum contém 10 composições de Carlos Patrício incluindo parcerias com Alexandre Vieira, Mário Falcão, Pablo Lanzoni, Johann Alex de Souza e Lota Moncada.

 

Dentre essas composições, gostei bastante de: Kids e Teens (Patrício / Falcão, 2002), com os excelentes trabalhos de baixo de Filipe Narciso e de trompete de Felippe Pipeta; Rota de Navegação (Patrício / Lanzoni, 2018) e No Mar da Tua Existência (Patrício, 2014), pelos arranjos encantadores; e a bela e delicada Niña (Patrício / Moncada, 2019), muito bem interpretada em espanhol por Michelle Cavalcanti, acompanhada por ela mesma ao violão e por Mário Falcão no charango. Integram ainda Revertério a faixa-título (Patrício, 2003), O Pescador de Ideias (Patrício / Vieira, 2002), Samba do Chico (Patrício / Souza, 2018) e Primas Veras (Patrício / Vieira, 2018), onde Carlos divide o vocal com a voz anteriormente gravada por Alexandre Vieira, também responsável pela programação, violão e o baixo da canção.

 

Sobre o som, que vocês podem escutar nas redes sociais de Carlos Patrício e no Spotify, é MPB dialogando com outras vertentes musicais, num amálgama bem concretizado em belos e competentes arranjos, refletindo um trabalho autoral de muito boa qualidade e bom gosto. Ultramegahipersuper recomendo.

 

Uma boa semana pra todos. Cuidem-se, vacinem-se, ajudem os atingidos pela enchente, escutem boa música, vivam e fiquem com Deus.