Orgasmo do pão torrado

O orgasmo do pão torrado

Eram duas horas da madrugada quando fui gestado. Um rapagão forte, braços musculosos e mãos macias escolheu a forma em que eu seria acarinhado.

Num tempo de desenvolvimento fiquei à espera do meu nascimento. Tinha todos os traços esperados para a minha genética: fofo, macio, cheiroso e de bom sabor. Tinha que ser igual aos meus irmãos que também disputavam comigo a gestação saudável. Para nascer fomos colocados no berço quentinho que nos transformou em bebês disputadíssimos.

Em pouco tempo fomos para uma vitrine, onde pessoas de todos os tipos, gênero e idade foram fazendo suas escolhas.

Vi então a bela garota, olhos ávidos e boca vermelha pelo batom passado ao despertar pela manhã. Percorreu com o olhar toda a minha família e foi apontando alguns que queria levar para casa. Eu estava entre seus preferidos.

Sai daquela maternidade corriqueiro esperando pela transa que deveria acontecer a poucos minutos. Hum, aquela boca vermelha e lábios úmidos. Eu teria o meu momento de prazer e de volúpia, entre as mãos e aquela boca que me seduziram.

Fomos depositados numa cama macia, lençol branco e bordado com rosas minúsculas e singelas. Era aconchegante o nosso ninho de amor. Senti o cheiro do café coado. Era a fragrância preferida para o momento da alimentação.

Mãos ávidas foram escolhendo meus irmãos. Fiquei observando e esperando a minha vez de experimentar tamanho prazer. Mas, fui deixado só, excluído.

Fiquei alguns dias relegado à própria sorte. O abandono foi me deixando murcho, sem vida. Da cela em que fui depositado, não conseguia ver o que se passava à minha volta. O silêncio era meu companheiro. De olhos fechados fui acostumando a pensar no meu fim.

Um dia, percebi que a luz solar adentrou pelas paredes que me separavam do mundo daquela jovem, pela qual me derramei de amor.

Ela tocou em meu corpo, senti tremer e arrepiar a minha pele. Era só eu e ela. Me acariciou por uns momentos e foi dividindo meu corpo em pedaços, cobrindo-me com um creme perfumado. Fiquei à espera do próximo carinho.

Quis ela que eu passasse por algumas transformações, me colocando para ser aquecido, como os seus lábios e boca umedecida esperavam.

Quando eu estava pronto para seu deleite, me olhou com olhos sedutores. Mordeu os lábios. A fragrância do café me deixou excitado, muito além da vez que fiquei à espera. Era a minha hora, senti o toque no meu corpo moreno. Estremeci.

A boca molhada me beijou. Vi o prazer dela me degustando. Ela não parou até que seu apetite por mim foi contido. Junto dela fui chegando ao prazer final. Eu e ela, numa sintonia de corpos saciados. Foi lindo e único; valeu a pena a espera. Morrer de amor é o fim desejado para poucos, mas eu morri assim como pão torrado ♥️💋

Estela Maria de Oliveira

29/07/2014

Estela Maria de Oliveira
Enviado por Estela Maria de Oliveira em 29/07/2024
Reeditado em 29/07/2024
Código do texto: T8117355
Classificação de conteúdo: seguro