Álvares de Azevedo
“Não te ama quem não te entende!”
Tenho 76 anos e penso em quando tinha 20. Eu era um moleque que vivia nas quadras de futebol de salão correndo atrás de uma bola de crina vegetal da marca Penalty. Quando não tínhamos uma bola, usávamos um fruto da árvore conhecida como flor-de-abril ou maçã-de-elefante - originária da Índia, se não estou enganado. Quanto mais a partida avançava, mais o fruto se despedaçava e sujava nossas roupas. Que horror! Um detalhe importante: ninguém ficava no gol a "bola" era muito pesada parecia um pedaço de pau de tão dura.
Sempre acreditei que a genialidade do ser humano aflora até os 25 anos. Depois disso quem estuda repete e quem não sabe bate palmas. Thomas Edison quando tinha 16 anos criou o seu primeiro invento, um "repetidor automático". Albert Einstein publicou a Teoria Especial da Relatividade aos 26 anos. Mas eu quero falar é do gênio "Maneco".
Álvares de Azevedo, conhecido também como "Maneco" foi contista, dramaturgo, poeta, ensaísta e expoente da literatura gótica brasileira. Falar sobre ele me faz sentir bem. Morreu com tuberculose pulmonar aos 20 anos. Sua doença foi agravada por uma queda de cavalo. A causa de sua morte é um tema controverso, com diferentes hipóteses. Penso que nunca saberemos a verdade.
Um pouco da sua biografia "Álvares de Azevedo. Nasceu em 12 de setembro de 1831, na cidade de São Paulo. No entanto, a família logo se mudou para o Rio de Janeiro, onde o poeta viveu até 1848, quando começou a estudar na Faculdade de Direito em São Paulo e se entregou à romântica vida boêmia."
Vou fazer a leitura de um dos seus poemas mais importante: " Se eu morresse amanhã!
"Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar os olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito,
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos,
Se eu morresse amanhã!"
Ele escreveu este poema pouco antes de sua morte. Dizem que a composição foi lida durante o seu velório. Acredito que tenha sido cantada. Me lembro de quando criança minha mãe cantava Luar do Sertão de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, um poema com 12 estrofes. Hoje é cantado em versão reduzida. Raimundo Fagner musicou os poemas "Fumo" e "Fanatismo" de Florbela Espanca.
Vou dividir o poema em quatro partes: título, primeira estrofe, segunda e a terceira, por último a quarta.
Título. A primeira palavra "Se" indica condição ou possibilidade. "Se eu morresse amanhã" ele previa sua morte, ditava o que poderia acontecer. Isso fica claro quando diz que a irmã fecharia os seus olhos e a sua mãe morreria de saudades.
Na segunda e terceira estrofe ele deixa para trás o drama e passa para a euforia. E se eu não morrer? "Quanta glória pressinto em meu futuro!//Que aurora de porvir e que manhã!"
No primeiro verso da quarta estrofe ele volta para o drama "essa dor da vida que devora". No terceiro verso da estrofe ele exalta um fio de esperança quando diz: "A dor no peito emudecera". Nessa parte ele fala sobre o seu drama, divide em prós e contras. Ele misturava a realidade com a fantasia. Almejava amor impossível e ansiava pela morte insistentemente.
Um gênio aos 20 anos. Ele diz isso: "Quanta glória pressinto em meu futuro!". Fico aqui embasbacado diante do seu poema, tentando imaginar o que ele teria feito até os 76 anos e o que fiz até os 20.
... E viva a poesia!!!