Fissão da Consciência.
Belo o hidrogênio. Um único próton, um único elétron e, em sua maioria, nenhum nêutron. O ápice da simplicidade atômica, uma pequena fração de todo o potencial químico-quântico do cosmos. Viole tal simplicidade, entretanto. Rompa o magnetismo entre o próton e o elétron, arranque a força o laço formado, serre ao meio as partículas, quebre por completo a pequena parte. E presencie a magnitude da explosão, de matéria à energia liberada instantaneamente, devorando ao seu redor cada pequena instituição viva, enquanto preserva a matéria morta e inerte. A raiva da quebra é da vida em si, o antigo átomo consome a mesma consciência que o rompeu.
Se tal potência está contida em um pequeno átomo, do mais simples tipo, é inegável que explosões de partes menores que uma única fração de matéria consumirão menos, mas por raciocínio, quanto mais potência contida, maior a força liberada. Qual, entretanto, é o potencial da ruptura de uma consciência?
O princípio anímico humano, existente antes do pensar em si, a consciência. A capacidade de ser, e apenas isso. Claro, em termos de massa, não encontramos valor para tal ente, mas quanta potência existe neste princípio? Uma propriedade capaz de calcular desde o troco das compras à densidade do cosmos, capaz de gerar em seu interior um modelo do universo por inteiro, capaz de fazer um ser vivente desejar o fim da vida, capaz de criar um herói ou um genocida, capaz de criar a bomba de fissão em si. Quanto seria consumido por sua energia caso colapse sobre si mesma?
Pois que se observe! Pois humanos colapsam em si mesmos dia após dia, consumindo com sua força às consciências ao seu redor, as custas da própria existência em si. Se tudo somos, somos nossa raiva, nossos medos, nossos preconceitos, nossos objetivos e mudanças. Não há luta contra si mesmo, apenas negação. Negue-se o ódio! Negue-se a ira! Negue-se o tédio! Negue o que desejar, mas um “não!”, mesmo que exclamado em plenos pulmões, não impede que tais sentimentos existam. A cura dos males da alma é entender sua causa e aceita-la como parte de si, mudando-se lentamente, não veementemente trancá-los no fundo da consciência, repetindo “nãos” dia após dia, fingindo que nunca existiram.
Silêncio é poder, pensamentos suprimidos são potenciais em desenvolvimento. Aquilo que é negado nunca some, apenas se acumula nas caixas vazias da mente, se depositando lentamente até um limiar crítico, onde os próprios limites de se ter limite não podem mais suportar. Estralam, racham, se expandem lentamente até, inevitavelmente, explodirem, consumindo os laços formados, as pessoas amadas, os sentimentos de alivio e conforto, deixando intocada a consciência inerte da dor, dos medos e da insegurança.
Explosões não se desfazem. Pressão liberada não se torna estrutura novamente, jamais. Não se desarma uma fissão em plena potência. Não é possível parar a consciência em ruptura. O único caminho é evitar o ponto crítico, manter-se em limiar seguro entre a repressão do ser e a aceitação de sua parte sombria. Não se deve negar os sentimentos mais potentes, ou a ruina é o único remanescente destino.
Às consciências que em si caíram: reconstruam a si mesmas. Aceitem as forças liberadas e as tratem sem pressão. Não há volta, mas há futuro. Diferente da matéria inerte, a consciência nunca consome a si mesmo, permitindo existência após sua fissão. Construam em si sem destruir a si, e que a pressão nunca mais os consuma.
Os humanos mais belos são os humanos completos.