Enigma Espelhado...
Numa tarde de domingo Raulin e sua mãe foram ate um parque, onde
estava ocorrendo um evento. Avistaram um entra e sai de um determinado espaço. Ambos trocaram um olhar, um entendimento que so os dois compreendiam. Entraram naquele pequeno quarto, depararam com um quadro branco com um circulo negro no centro. Em frente ao quadro um espelho, mostrava o mesmo quadro so que negro com um circulo branco no centro.
- Como explica isto Raulin?
- Nem de longe tenho este entendimento minha mãe.
- Vamos terminar nosso passeio, este parque tem muitos pontos maravilhosos para visitar mamãe.
Dos olhos dela rolaram lagrimas de felicidade por sentir o quanto seu filho era dotado de educação.
No caminho viram um senhor sentado a beira do gramado verde. Usava uma tunica brilhante como o sol.
- Boa tarde rapaz, ficou intrigado com o quadro?
- Sim senhor, para falar a verdade, muito chamou minha atenção. Somente nada entendi, como pode ser o mesmo quadro apresentar diferença tão grandiosa frente a um espelho.
- Bom, podemos citar que um dia no futuro ira desvendar o enigma espelhado meu rapaz.
- Como tem tanta certeza, quem é o senhor?
- Eu sou uma particula do tempo rapaz. Tenha calma, paciencia. Creia nada fica oculto no Universo.
O senhor levantou, colocou sua mão no ombro de Raulin, com olhar penetrante falou.
- Continue neste caminho sem desviar a atenção do seu foco, nunca pegue atalho, confie, valorize sua mãe como tem feito ate os dias atuais. Um dia no futuro teremos novo encontro. Perseverança, muita fé meu rapaz.
O senhor com um sorriso esplendoroso, inexplicavel se despediu.
- Vamos mamãe.
- Vamos filho, ainda tenho muito o que fazer em casa.
Mãe e filho selaram o termino do passeio com um beijo, abraço fraterno repleto de respeito, amor, carinho maternal.
Os dias passaram, uns tranquilos, outros tumultuados no decorrer do caminho. De vez em quando o quadro se apresentava de maneira marcante na mente de Raulin.
Uma bela tarde Raulin voltou ao parque, entrou naquele pequeno quarto. O quadro ainda estava la, de longe avistou aquele senhor sentado no mesmo lugar de anos atras. Dirigiu seus passos lentamente ate sua presenca.
- Boa tarde senhor. Como tem passado?
- Estou muito bem belo garoto. Você acaba de dar o primeiro passo para descobrir o misterio do enigma espelhado.
- Como assim?
- É pela linha do passado que ira descortinar o presente, futuro.
- O senhor é sabio, tambem usa a linguagem enigmatica para expor os pensamentos necessarios para ativar dentro do coração do proximo o querer saber, descobrir o real sentido da historia veridica de toda uma existencia. Gratidão senhor.
- Apenas realizo uma pequena particula conforme o Altissimo permite. O restante é com aquele que Adonai escolheu para descortinar atraves da obediencia, conhecimento do seu chamado.
- Gratidão senhor por todo ensinamento, direção no dia de hoje.
- Ainda nos encontraremos novamente rapaz.
- O senhor em quase nada mudou.
- Eu sou parte do tempo, lembra?
Raulin deu um sorriso e partiu.
Ao passar em uma determinada rua parou frente a um casebre. As lembranças vieram a tona de maneira natural sem esforco nenhum.
As cenas passaram em sua mente como uma fita de um filme. Viu sua mãe carregando trouxas de roupas para lavar e passar. Sempre sorrindo, cantarolando suave canção, outras assobiando como passaro livre. Por vezes foi testemunha de um olhar triste, profundo mergulhado numa dor inexplicavel. O qual logo disfarçava alegando estar apenas cansada.
Chegando em sua nova moradia, o qual ele mesmo adquiriu atraves do esforço de seu trabalho. Formado exercia advocacia com muito orgulho, alegria, sabedoria adquirida pelos estudos extraidos no decorrer do caminho o qual escolheu trilhar com empatia, convicção, fé, resiliencia, perseverança. A tudo alcançado reverenciava ao esforço de sua mãe que, incansavel, batalhou dia a dia para prover seu sustento, estudo em alto grau de aprendizado.
Ela sendo analfabeta desde os tempos primordios, aprendeu com ele os primeiros sinais de um aprendizado vital, essencial a todo ser humano. Chegar a este ponto nada foi de facil acesso, enfrentou diversas barreiras, obstaculos por ser filho de mãe solteira, moreno, olhos azul esverdeado. Intrigante figura para muitos, personalidade forte, determinado a vencer atraves do estudo todo preconceito, discriminação exposta pela sociedade. Nunca escondeu sua origem, mantinha viva a imagem de sua mãe na mente, coração que sempre falava com toda doçura, firmeza.
- Estude meu amado filho. Estude
com afinco se quer vencer de fato, confie no seu talento, dom. Eu acredito acima de tudo que tem Deus a te guiar, proteger.
Um dia numa feira proxima de sua residencia deparou com um senhor claro, olhos azul, atento a cada ação, passo que dava em direção as barracas ali armadas. Sentiu um tremor no corpo de sua mãe, tambem percebeu lagrimas em seu doce olhar.
- Quem é este senhor mamãe? Por que ficou tão espantada ao ve- lo?
- Filho amado, em casa conversaremos sem ocultar a sua origem. Te amo muito, ja é hora, momento de saber sobre sua existencia. Agora é um homem que podera tomar sua propria decisão. Confio em Deus poderoso e por toda força, coragem que "Ele" atraves de seu Exercito de Anjos nos protegeu de tantos perigos.
Raulin abraçou sua mãe com todo carinho em sinal de respeito, admiração. Tinha plena convicção da sabedoria guardada naquele coração e de todo amor nutrido ali estabelecido.
Ao adentrar na humilde, confortavel residencia, guardaram as compras no devido lugar destinado a cada uma conforme a organização feita com eximio cuidado, carinho. Depois de um farto almoço, dirigiram ate a sala onde estava um aroma agradavel de um cafe exposto num bule de agata lilas, cor predileta de sua mãe.
- Filho, como sabe trabalhei numa fazenda como escrava. La realizava varias tarefas dia e noite, mal tinha tempo para descansar. Qualquer falha era chicoteada ate sangrar.
Bom você conhece parte desta historia. Vamos ao que interessa de fato no dia de hoje. Aquele senhor que apareceu em minha frente, foi, ainda é o grande verdadeiro amor de meu viver de um passado longinquo.
Ele estudava em outro país, quando veio morar na fazenda aconteceu algo fora do comum para aquele tempo. Nos apaixonamos, um amor puro, genuino, mas impossivel de ser concretizado conforme a vontade da familia de rico porte social, financeiro. Quando tomaram conhecimento do nosso envolvimento reagiram de modo estrondoso, cruel. Os castigos em minha direção aumentaram, suportei calada a cada apreensão, chicotada. Fiquei gravida do meu grande, genuino amor. A mãe de Raul quando soube arquitetou um plano para afastar um do outro. Enviou seu filho a uma viagem de negocio relacionado a familia. Filho obediente aos pais aceitou sem poder negar, questionar. Despediu, prometeu voltar e tomar uma decisão que abalaria a todos. Nunca tomou conhecimento de minha gravidez. Fui meramente ameaçada de morte caso tocasse no assunto. Ja te amando com um amor crescente em silencio fiquei. Um dia sem querer ouvi que meu destino ja estava selado. Apos seu nascimento levariam você para um orfanato. Eu seria morta. O que nunca entendi foi o porque de tudo isto. Qual seria a razão de manter minha presença ate seu nascimento. Só depois, longe daquela casa tomei conhecimento.
Eles vendiam os recém-nascido para traficantes de crianças. Principalmente se era menino .
- Como saiu de la comigo mamãe?
- Um dia a senhora veio comunicar que o navio que Raul estava de volta para a fazenda afundou, ninguem sobreviveu. Foi uma dor que jamais pensei existir. Fugi no meio da noite, levando comigo as poucas roupas que possuia e o bem mais valioso de toda minha vida: Você. Fui para o mais longe possivel daquelas terras.
Lagrimas deslizavam pela face da mãe de Raulin, que carinhosamente enxugava com um pequeno lenço.
- Minha mãe que tanto amo, como sofreu.
- Filho amado, fiz uma escolha, iria te proteger a qualquer custo. Você é o fruto de um amor reciproco. Meu filho, daria a vida pela sua. Te amo, sempre te amarei.
Fui acolhida por uma prima que era liberta, morava numa região distante. Mudei de nome, aparencia no intuito de passar despercebida com receio de que me encontra-se. Devo muito a familia de minha prima. Apos seu nascimento comecei a lavar, passar roupas para as senhoras da região.
Você ainda muito pequeno me perguntou: Onde esta meu pai? Por que tenho olhos desta cor? Lembra disto meu filho?
- Sim mamãe, você disse que ele havia morrido afogado. Depois ficou muda, sem reação. Me abraçou e disse: Chegara o dia de saber de tudo filho, ainda é um pequeno, grande em carater, compreensão.
- Você nunca questionou nada depois disto. Mas agora a historia toma outro rumo. Vamos deixar o destino comandar as redeas de nossa vida.
- Esta certo mamãe, vamos descansar. Amanhã sera um novo dia, por hoje basta de emoção forte.
A noite deitado em sua cama as lembranças fluiram em sua mente, voltou a viver uma a uma sem interrupção. Lembrou de quando era pequeno, das pessoas que o apontavam com desdem por ser moreno de olhos azul esverdeado. De ser um pobre rapaz filho de uma lavadeira negra. Lembrou das humilhações sofrida pela sua mãe pela condição em que viviam. De como poderia estar estudando sendo filho da escoria, pobreza distinta.
Recordava das vozes inflamadas de ira, racismo, discriminação.
- Ei você, sabe qual é o seu lugar negrinho imundo?
Nestes momentos em silencio clamava por socorro celestial. Lembrava do sacrificio de sua mãe para o criar, do esforço sobrenatural para que ele estudasse para ser alguem com direito a uma vida digna, descente.
Ao levantar foi ate sua mãe e perguntou depois de um beijo em sua testa, pedindo-lhe a benção.
- Mãe, qual a origem do meu nome?
- Filho, seu pai chamava Raul, eu Lindalva... Raulin meu amado. Este foi um jeito de cultivar o amor dentro de meu coração. La na fazenda era conhecida como negrinha escrava, me deram o nome de Catita, assim era chamada por todos. Somente Raul sabia meu verdadeiro nome. Lindalva.
Raulin voltou ao parque com sua mãe, foram ate o quarto onde o quadro aínda permanecia la. Ao sair encontraram aquele senhor da feira. Ele olhou profundamente nos olhos de Raulin e de sua mãe.
Meio desconcertado perguntou:
- Lindalva é você?
De cabeça baixa, tremendo respondeu.
- Sim senhor, sou eu.
- Como isto é possivel? Quando voltei da viagem falaram que voce tinha morrido. Quem é este rapaz, você se casou? Faz tanto tempo, deve ter tomado rumo diferente. Sofri muito com sua ausencia, agora te encontro. Como pode ser.
Lindalva relatou todo acontecido a Raul. Depois chegou proximo a Raulin e disse com voz tremula pela emoção.
- Filho, este senhor é o teu pai. Raul este é o teu filho, fruto do nosso amor.
Depois de um abraço entre os tres, Raulin entra novamente no quarto, para em frente ao espelho, por fim descobre o enigma espelhado. Sai sorridente, olha para todos os lados. Ve sentado no gramado aquele senhor que conheceu tempos atras. Vai em sua direção, segura em suas mãos e fala.
- Senhor posso sentar ao teu lado?
- Sim, estava te esperando.
- Como assim, me esperando, sabia que viria hoje?
- Esqueceu que sou particula do tempo? Você cresceu rapaz, é um homem feito, realizado. Hoje ganha do Universo dois presentes: sua mãe e seu pai. E o outro: desvendou o enigma espelhado.
- Verdade senhor. Descobri que no mundo existem pessoas branca de alma negra. E pessoas negras de alma branca.
- Exatamente isto. Va siga teu caminho com convicção, certeza da felicidade junto a sua familia, ninguem mais podera separar, quebrar o elo deste amor entre vocês.
Sorrindo o senhor se levantou tocou nos ombros de Raulin sussurrou em seu ouvido. Va, fique em paz.
Raulin se aconchegou entre Raul e Lindalva, disse com um sorriso resplandecente:
- Podemos ir agora papai, mamãe?
🌻 Poeta de Deus
27/07/24
Gratidão por sua visita⚘⚘⚘