Na Aprovação do vestibular
Não lembro se era sexta-feira ou sábado,
Mas sei que era de tarde. Mal almoçamos direito, pois como o Júnior, estávamos sob o clima de apreensão e ansiedade. Visto que a qualquer hora sairia o listão dos aprovados no vestibular.
Em Belém , acredito, como em qualquer cidade desse nosso vasto país ainda haja essa deslealdade pra cursar uma universidade ou faculdade. Mas naquele tempo, com todos esses ingredientes acabamos criando um tempero todo cultural pra essa dificuldade, que marcou gerações, através das músicas e dos procedimentos adotados por cada personagem para festejar a sua aprovação no vestibular.
Nesse clima pitoresco, onde o vestibulando e suas dificuldades e preocupações se condençavam , eu e Higino estavamos coladinhos a ele, assim como a tia Dina, tio Ademar, tia Nazaré e os outros irmãos e amigos. Como se fosse uma partida decisiva de final de copa do mundo, e era, porque impelia aquele jovem ao futuro promissor ou a tristeza imediata da derrota.
Na rádio os locutores brincavam com as emoções. Entre um comercial e outro , dizendo o curso e os muitos nomes, sob a narrativa de um jogo de futebol.
A ânsia era normal, mas no caso ali era pior, não só pela concorrência, mas porque era Administração, um dos primeiros cursos e também porque o nome dele inicial era Ademar. Portanto tudo em primeiro, variáveis que norteavam a agonia, o medo ou tensão a ser maior. Nossos corações vibravam a cada emoção, ou seja a cada conhecido , que era aprovado. Júnior estava ansioso e nós íamos no embalo, como se estivéssemos lá na ameixeira.
De repente terminou arquitetura e o loucutor pra uma pausa disse:
- Podem comemorar...
Em seguida entrou no curso de Administração falando assim:
-Agora o curso de Administração matutino.
E desfiou a falar. Em seguida veio o vespertino e o coração já embalado começou a acelerar, quando ele falou Ana Rosa Beltrão, Almir de Souza Peixoto, Ademar de Deus do Espírito Santo Júnior...
Aí ninguém aguentou nos abraçamos e ele numa explosão gritava:
- Eu passei Betoquinha...Eu passei Ginoca.Eu passei...
Alguém já colocou no toca fitas o hino do Pinduca, que dizia assim:
- Alô, alô papai, alô mamãe. Põe a vitrola pra tocar, pode soltar foguetes, que eu passei no vestibular...
Nesse turbilhão de emoções Tia Nazaré enxugava as lágrimas com o guardanapo, tia dina o abraçava chorando, tio Ademar o abraçou e erguia os braços feliz como se fosse um gol do Remo. Os outros irmãos vieram parabenizar...a casa ficou cheia com os amigos festejando a aprovação do novo calouro.
Sua amiga de frente da casa da titia veio com a felicidade estampada no rosto e o abraçou. Os amigos de infância o fizeram assentar numa mureta de concreto, ao lado do portão que acessava a cozinha, próximo ao muro do Durval, que parecia um trono, bem apropriado pra ocasião. Depois de terem jogado talco, ovo, cerveja e champanhe, Paulinho Diabo começou a cortar-lhe as madeixas, alguns jogavam tinta, outros tambem cortavam um pedaço do cabelo e nós como tantos outros ao redor, felizes de tanta felicidade por ele ter sido aprovado acabamos saindo na foto, que nesse momento nem lembro quem fez.
Só sei, que guardo com carinho não só o momento, mas a foto quase vencida pelo tempo, onde estão alguns dos personagens , que participaram dessa importante festa do meu primo, que seria, mesmo sem eu saber, seguido por mim dois anos depois os mesmos passos.