SETE GUÉLAS E O CORRENTINO
SETE GUÉLAS E O CORRENTINO
( Da Série histórias de Rosário do Sul)
Naquele sábado 6 de janeiro de 1968, eu já era sócio efetivo da turma do Bar do Osvaldo -desde 1964- e estávamos ali, cumprindo o primeiro expediente- de final de semana-que começava às 10:00 horas da manhã e ia até as 14:00 horas da tarde ,quando nos recolhíamos às nossas casas, para almoçar, depois de termos tomado todas a sorte de aperitivos fortes tipo martelinhos de conhaque, de cachaça pura, cachaça com Underberg, copos com dose dupla de uísque e, alguns, de nós, mais afeitos a arte do trago, tomavam, além disto, duas ou três garrafas de Brahma.
O segundo expediente começa as 17:00 horas e ia até altas horas da noite, quando o Osvaldo avisava que ia fechar o Bar e orientava ao Nego Rosa, para não servir mais qualquer pedido a partir daquele momento.
Estavam ali e eu- o mais novo de todos junto com os veteranos o Ney e Ione Freitas, o Beto Barreto, o Joao Barbeiro, o Noé Garrão, o Bijico Velho e o Bijico Novo, o Gringo Trindade, o Paulinho do Vale, o Beto Treme Terra, o Seu Adamastor Pinheiro- que inundava o ambiente com a fumaça de seu palheiro-, o Roberto e o Juca Fonseca e completavam a turma os irmãos Paulo Roberto e Luiz Carlos Carbonel, conhecidos comerciantes- Picaretas- de carros novos e usados.
Pois neste sábado de manhã, como surgido do nada e indicado por quem não sabemos, nos apareceu um “Doble-Chapa” de Santana do livramento, que segundo nos disse, estava procurando quem tivesse carros V8, grandes, para vender.
Aparentemente não tínhamos resposta que pudesse lhe ajudar até que, da última mesa que ficava na janela que dá para rua João Brasil, levantou-se o Piloca Carbonell e disse:
-Buenos Dias Hermano, “correntino”, com muito prazer lhe informo que, ali na praça Borges de Medeiros, bem na frente do Hotel Brasil, tem um taxista que quer vender o seu carro.
Mas ele, o seu Aldo, é um sujeito muito liberal e não gosta de que o chamem de senhor, cidadão ou outro tratamento formal e nem gosta que fiquem elogiando o seu carro.
O amigo tem que chegar lá, para granjear sua simpatia, e já ir chamando-o pelo apelido e dizendo: Dai Séte Guelas me disseram que queres vender essa tua banheira.
O Correntino agradeceu a informação e disse: Buenos dias señores! Muchas gracias por la informacion e saiu do bar, entrou no seu carro e tomou, a rua Joao Brasil, com destino ao endereço fornecido pelo Pilóca.
O Roberto e o Juca Fonseca disseram que iam ver o desenrolar do fato e pegaram o seu Jeep Willis levando com eles eu, o Beto Barreto, o Noé Garrão e Gringo Trindade.
Fizeram um atalho, pela voluntários da Pátria o que nos proporcionou chegarmos antes do “correntino” e ficar perto do Ponto de Taxi do seu Aldo e, protegidos pelas árvores termos uma visão completa do cenário e do que, em breve, ia acontecer.
Não deu outra: Podemos ver o coitado do “correntino” chegar pela Amaro Souto e estacionar o seu carro quase na esquina da Praça em fronte ao Banrisul e dirigir-se sorrindo para o local onde se encontrava o seu Aldo, sentado em um Banco de frente para o seu flamante Ford V8.
Ao chegar, perto largou de repente e em alto som : Buenos dias maestro Sete Guelas, me informaron que usted desea vender su Bañera.
Estoy aqui para comprar-la e pagar-la a la vista, em dólares.
Nem bem acabou de dizer a última palavra e já viu o Sete Guelas com um relho na mão correndo para lhe dar uns laçaços.
O Correntino saiu disparando e como viu a porta do Hotel Brasil ,onde estava hospedado, entrou direto gritando por ajuda, no que foi socorrido pelo Ocir, o Fón Fón, que mandou-lhe entrar para uma sala reservada e fechou a porta da Frente impedindo o Sete Guelas de entrar e , que de fora ,gritava: Solta este correntino que vou ensinar-lhe a respeitar os homens de bem e os cidadãos honrados.
A plateia entre as arvores se retorcia de tanto rir e assistia a resistência do Ocir em abrir a porta para o Sete Guelas que estava furioso.
Até que chegou a dona Alzira que era mãe do Ocir fón Fón e mandou o Sete Guelas sair dali ou dar parte na polícia mas, não ficar fazendo escândalo na frente do seu hotel.
Voltamos para o Bar do Oswaldo e contamos o ocorrido e foi uma risada geral e até os patriarcas que ficavam na sala em frente ao Osvaldo, longe da beberagem, não resistiram e vieram ver o que estava acontecendo e, assim vimos o seu Inacio Izaguirry, o Seu Joca Fialho, o seu Oscar Cañedo rirem junto com todos nós.
Por “tenência doble” encerramos o expediente da manhã mais cedo e concordamos em cancelar o da tarde.
No domingo, o Roberto Fonseca, falou com o Ocir fón Fón o qual lhe informou que o “correntino” tinha encerrado a conta e, às 8:00 horas da manhã, se recambiado para Santana do Livramento deixado um recado que voltaria, em breve, para se vingar da vergonha e do risco de apanhar que a turma de bagaceiros do Bar do Osvaldo lhe tinha feito passar.
Tudo voltou a normal e, nos fins de semana, cumpríamos, religiosamente, os dois expedientes o que consolidou nossas amizades e nos proporcionou vivencias que nunca iremos esquecer.
Saí Rosário do Sul e do Bar do Osvaldo em 1970 e “ correntino” não tinha aparecido...
( Recanto da Ana e do Erner 26,07.24- Capão Novo)