ABANDONADO
O escritor é o criador de mundos cheio de risos e lágrimas e das fantasias mais fantásticas. A inteligência humana seria atrofiada sem os escritores.
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Todas as tardes, taciturno e impassível, fica ele sentado num dos bancos externos do shopping olhando o tempo e as pessoas passando. Não fala nada, nenhum cumprimento recebe ou gesticula a esse título, é apenas uma figura apagada convivendo com as próprias amarguras.
Sempre me pergunto o que ele pensa, quais suas angústias, desejos sonhos, pesadelos e anseios. Mas seu olhar impenetrável denota a porta trancada da solidão amarga. Como devem queimar e arder em seu interior as chamas dos muitos tormentos silenciosos, talvez dezenas, que o permeiam!
A circunspecção do semblante provavelmente indique o imperativo aviso para que todos fiquem distantes, ou então uma forma de defensiva barreira objetivando esconder as acumuladas lágrimas contidas. Chorar diante de alguém compassivo que se apiede dele certamente aconteceria num piscar de olhos. Bastaria uma mão suave sobre seu ombro e um olhar compreensivo.
Ocorreu-me nalgum momento ir até ele para entabular repentino diálogo sobre qualquer banalidade, simplesmente com vistas a proporcionar-lhe calor humano caridoso. Evitei, nem sei porquê. Algo mais forte me reteve. Assim, penalizado mas receoso, preferi orar por ele, entregando-o nas santas mãos do Todo Poderoso. Pode ser a maior necessidade dele agora.