Sinais dos poetas suicidas

A verdade é crua, mas não nua.

Eu acho que escrever poema é uma loucura. O que me chama a atenção é a quantidade de escritores que se mataram no passado. A maioria eram jovens poetas. Parte dos seus versos fala em primeira pessoa. Não se referem ao "nós". Alguns versos são realmente suicidas. Parece que existia uma tendência para a depressão. Outra característica desses poetas é que eles sempre tiveram vários relacionamentos amorosos. Não acho que fossem pessoas solitárias. Parece que o problema era interno e não o de fora. O que me impacta é que a poesia busca o belo, não a morte.

Vou citar dois poetas russos rivais, dos quais eu gosto e recomendo.

Um pouco da biografia de Serguei Iessiênin (1895-1925). Poeta russo, filho de camponeses da região de Riazan, foi criado pelo avô. Estudou em escola rural e frequentou o seminário. No meu entender a falta da figura paterna também pode ser um problema a ser considerado. Ele se tornou um dependente químico. Trabalhou como tipógrafo e participou de grupos literários.

Veja a primeira estrofe de um dos seus poema escrito 1922.

"Sim! Está decidido, agora não tem mais volta

Deixei minha querida terra natal,

as folhas de álamos carregadas pelo vento nunca mais cairão sobre mim,

não sentirei novamente o toque das folhas, nem ouvirei seus sussurros, é verdade."

Nesta estrofe percebe-se três pontos significativos.

- O primeiro verso diz: "Sim! Está decidido, agora não tem mais volta". Veja que ele é enfático na sua afirmação.

- No segundo, reafirma a sua convicção: "Deixei minha terra natal¨. Aqui fica claro a figura do "eu".

- Depois, ele diz: "as folhas cairão sobre mim". De novo, a figura do "eu" - cairá sobre mim.

Esses são sinais claros de um suicida. Esse poema foi escrito três anos antes da sua morte.

Outro poeta russo que avalio é Vladimir Maiakóvski.

Um pouco da sua biografia (1893 - 1930). Nasceu e passou a infância na aldeia de Baghdati, nos arredores de Kutaíssi, na Geórgia, Império Russo. Lá cursou o ginásio e, após a morte súbita do pai, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscou, onde continuou seus estudos. A falta da figura paterna também aparece na vida de Maiakóvski.

Um fragmento de um dos seus poemas escrito em 1926, depois da morte de Serguei Iessiênin em 1925.

"Nesta vida

morrer não é difícil.

O difícil

é a vida e seu ofício."

Ele está falando sobre o poeta Serguei Iessiênin, que morreu no ano anterior. Ele diz que "morrer não é difícil". Um sinal de que poderia se matar a qualquer hora, isso não era um problema para ele.

Vamos ver uma poeta da mesma época que Maiakóvski e Iessiênin.

Florbela Espanca (1894-1930). Um pouco da sua biografia. Em 1903, com sete anos, já mostrava sua opção por textos amargos. Em 1908 ficou órfã de mãe. Mais uma vez a falta da presença, agora a materna. Ela foi casada três vezes, coisa incomum para as mulheres da época. Isto demonstra que também ela não era uma pessoa solitária. Sua poesia é caracterizada por um forte teor confessional. É densa, amarga e triste. Antes de sua morte já tinha tentado colocar termo à vida por duas vezes. Suicidando-se, supostamente, no dia 08 de dezembro de 1930, data que seria a celebração do seu trigésimo sexto ano de vida.

No último terceto do soneto Fanatismo, ela faz uma declaração extremada, compara seu amado a Deus. Para mim, outro sinal de que ela amava a vida mas desejava a morte. "tu és como Deus: princípio e fim!…”

"E, olhos postos em ti, digo de rastros:

“Ah! podem voar mundos, morrer astros,

Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

As mortes prematuras dos poetas russos me fazem pensar que não foram premeditadas. Acredito que nunca saberemos a verdade dos fatos.

... E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 24/07/2024
Reeditado em 26/07/2024
Código do texto: T8113862
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.