Uma simples varandinha

Perceberam que a boneca Barbie sumiu? Nem uma notinha sobre ela e muito menos algum lacinho cor de rosa pra contar história. Nada que lembra-se a febre que tomou conta do mundo ano passado. Acho que a maioria das pessoas se deram conta de que “o mundo não é cor- de- rosa”. Que bom se fosse! Mas temos de lidar com a vida real, responsabilidades, amizades complicadas, falta de grana, família e, além disso, tentar superar traumas vividos ao longo de nossa vida e, atire a primeira pedra quem nunca sofreu um “colapso interno” pelo menos uma vez em sua existência. Pois é, humanos... ninguém têm vida de boneca não e, sair da casa de papai e mamãe têm seu preço. Se você não nasceu em berço de ouro já deve saber que a maioria das vezes ter a nossa independência requer de nós nervos de aço para encarar a vida sem o conforto de outrora, sem aquela comida quentinha na hora certa ou poder ficar um pouco mais na cama sem a preocupação de ter que sair doido pra trabalhar ou não conseguimos pagar o aluguel. Porque crescer é isso, meus jovens... Responsabilidades e, muitas vezes ter de ir morar nos fundos de uma casa, sem varanda e sem espaço pra criar um simples vaso de cactos.

Meus trinta e quarenta anos de idade foram marcados por tantos altos e baixos que daria um quinto livro mas ainda não tenho coragem para escrevê-lo. Enquanto isso, continuo colecionando algumas desventuras mas, posso dizer sem sombra de dúvidas que Deus sempre agiu com muita misericórdia e amor em minha vida! Orgulho-me da mulher madura que estou conseguindo ser e, também posso dizer orgulhosamente que hoje sim, posso plantar não só cactos mas flores coloridas em vasinhos bonitos na varanda e assim, esperar a chegada dos beija-flores. Hoje posso contemplar o pôr -do-sol todos os dias com minha sagrada xícara de café.

Não! Eu não acertei na Mega-Sena e, continuo morando numa casinha simples mas, com direito a uma varandinha. Só de eu não ter ninguém no meu quintal arrastando chinelo pra baixo e pra cima, escarrando e ouvindo aquelas músicas “pé-de-serra” naquelas caixas com luzes demoníacas já estou no lucro! Paz é isso! Por isso sempre grito que DEUS É BOM O TEMPO TODO! Nós é que muitas vezes não entendemos que temos que atravessar processos, amadurecer e entender que nada vem fácil e que nem tudo é como a gente quer. Que existe um tempo para as coisas acontecerem e, que não precisa acontecer aquele evento estrondoso em nossa vida para sermos felizes. Devemos ser gratos pelas mínimas coisas que alcançamos e sentir o sabor delas. Assim como agora posso saborear esse cafezinho e contemplando o por do sol da minha simples varandinha.

Relembro quantas coisas tive de renunciar para obedecer o meu chamado literário. Porque a literatura não veio para me organizar. Pra mim, foi ao contrário e, ela veio mesmo para me desorganizar. Escrever requer de mim uma responsabilidade e entrega absoluta. Muitas vezes largo tudo o que estou fazendo para escrever um texto, uma crônica e ainda mais um livro. Porque se eu deixo pra depois parece que perde a validade, não serve mais e, tenho a sensação de que o texto era para aquele momento. E, como não posso ser escritora 24 horas do meu dia, me desdobro para conseguir escrever.

Outra coisa é que também sei que jamais conseguirei ser uma escritora de IA. Deixo para quem quiser ser mas, não consigo usar nada artificial em minha vida. Meus livros foram todos experiências vividas. Até no Bichos em Poemas que trato algumas vezes de forma lúdica, são textos quais vivi, senti e escrevi. Por isso e muito mais reafirmo que nessa longa estrada da vida vou continuar sendo eu mesma sempre. Seja nessa varandinha ou em outra. O importante é ter paz e principalmente estar em paz comigo mesma.

Andreia Caires
Enviado por Andreia Caires em 24/07/2024
Reeditado em 24/07/2024
Código do texto: T8113842
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