Um grande alívio

O que significou ser diagnosticada com TDAH depois de adulta? Para mim, significou um grande alívio. Fiquei livre dos rótulos de ser considerada uma pessoa “lerda”, “desligada” e que vivia no “mundo da lua”. Claro que isso não muda o fato de que os professores reclamavam de mim quando eu esquecia as tarefas ou não acompanhava as aulas com a devida atenção, as outras crianças me chamavam de “doida” e pessoas da minha família reclamavam que eu não era capaz de fazer qualquer tarefa e até uma criança de dois anos sabia mais das coisas e era mais esperta do que eu. Devido a isso, cresci duvidando da minha capacidade em relação a tudo, já que praticamente todo mundo falava que eu não sabia atender a um telefonema.

É lamentável ver que ainda existe preconceito em relação a pessoas com problemas de aprendizagem como dislexia, apesar de hoje haver mais informação. Muitos são os que dizem que tais pessoas são na verdade vitimistas que se valem de sua condição para ter direitos e que antes só passava de ano quem era realmente capaz e que ninguém usava o rótulo de disléxico, autista ou portador de TDAH como desculpa para a própria incapacidade. É triste ver como o preconceito perdura e não são poucos os professores que o têm. Não é incomum vermos profissionais da educação tratando de forma diferenciada alunos com síndrome de Down ou dislexia. Muitas pessoas até falam que as pessoas dizem que são portadoras desses distúrbios para encobrir a “falta de inteligência”. Um senhor conhecido meu até afirmou que o autismo hoje em dia é usado como “moeda de troca.”

Antes, quando não se sabia o que se sabe hoje, os pais reclamavam muito com esses filhos, chegando a chamá-los de “burros” e incapazes.” O preconceito e a desinformação devem ter prejudicado o desenvolvimento de muita gente que cresceu ouvindo que era lerda e incapaz de realizar qualquer tarefa. Lembro de como os professores brigavam comigo por não copiar logo as lições como se eu fizesse aquilo de propósito. Hoje, foi ótimo me livrar do rótulo de “lerda” e entender que a culpa nunca foi minha. Seria ótimo - mas sei que não é possível - poder voltar no tempo e dizer à criança que um dia fui: a culpa não é sua. Nunca foi.