Amor é uma palavra que balança
Sinto meu corpo voar, subo uma passarela, vejo luzes, Bethânia canta sobre circo. Sinto que seria engraçado pular, mas isso logo parece absurdo. Acho que estou te esquecendo, e isso me dá medo.
Peço um café, escrevo, bebo, pago, saio. De relance, viro e olho uma lojinha de artigos religiosos. Há um Jesus Cristo deitado; alguém esqueceu de arrumar. Acho isso engraçado, escrevo sobre isso, subo no ônibus. Xangai canta aquela "ABC do Preguiçoso", dou uma risada, uma moça me olha estranho. Olho pela janela, fecho os olhos. Não sou uma pessoa, não sou uma pessoa, sou uma forma geométrica, sou uma textura, sinto cheiro de pipoca. Sinto que, se gritasse, ninguém ouviria.
Vejo o passar de um homem, vejo rosas vermelhas, várias. Ele leva rosas e uma caixa de chocolates. O homem some como um vulto vermelho. Lembro de uma história em que eu era novo e criança, lembro que andei de cavalo. O céu estava pintado em garranchos de luz e nuvem. Quis saber daquele bicho, quis saber por que, afinal, ele se deixou domar. Eu não falei nada com ele, eu não conhecia a língua dos bichos. Até hoje não conheço.
Os bichos guardam história e mistério sem fim.