PERDENDO ALTITUDE
No crepúsculo da jornada, quando a nave da vida começa a perder altitude, é chegado o momento de se desvencilhar da bagagem desnecessária. Este é o tempo de lançar fora as mágoas acumuladas, os erros cometidos, os desacertos que se tornaram pesos insuportáveis. Assim, um a um, deixo cair os fardos que não mais se justificam.
Libero a dor que tantas vezes me paralisou, os ressentimentos que me envenenaram os dias, os medos que me impediram de voar mais alto. E enquanto os vejo se afastar, sinto um alívio quase indescritível, uma leveza que me era desconhecida. Comigo ficam apenas a esperança, que sempre me guiou; a saudade, que me lembra das belas paisagens que encontrei; e o arrependimento, não de ter errado, mas de ter carregado tanto peso desnecessário.
Preciso liberar tudo que me prende à terra, para poder seguir em frente tranquilo e consciente. Quero continuar a viagem da vida leve, como quando comecei, levando comigo apenas o complexo ânimo que me orientou durante esse voo maravilhoso e educador. Deixo para trás o que já não serve e abraço a liberdade de seguir em frente, sem amarras.
Afinal, a vida é um constante aprender e desaprender. Cada erro, cada acerto, cada momento de dor ou alegria faz parte desse grande mosaico que é existir. E é preciso coragem para soltar o que nos impede de ser plenos, para abrir mão do que nos prende ao chão e nos impede de voar.
Enquanto sigo, contemplo o horizonte com um misto de gratidão e expectativa. A jornada pode ter seus altos e baixos, mas é nas alturas que encontramos a verdadeira essência do que somos. E, assim, com o coração leve e a alma livre, continuo a viagem, pronto para os próximos desafios e maravilhas que o caminho me reserva.
Tião Neiva