DEVANEIOS PORTENHOS
Quando nos noticiários da TV nos deparamos com figuras como Javier Milei, o recém empossado presidente argentino, a primeira associação que vem a cabeça, é que deve existir uma confraria internacional, que conta também com o jornalista Guga Chacra e o ex-primeiro ministro inglês Boris Johnson. Em comum, além da cabeleira desgrenhada, uma maneira de olhar, que evidencia algum grau de autismo.
Mas o objeto deste texto é nosso excêntrico vizinho portenho, que por incrível que pareça, além de político, tem formação em economia e escreve livros com posições libertárias e propostas radicais de reforma econômica, que pretende por em prática na desmantelada economia argentina.
Milei aparecia constantemente na mídia argentina, conhecido por seu estilo direto e opiniões contundentes, que lhe renderam além da grande base de seguidores, muitos críticos.
Começou a carreira política no movimento libertário da Argentina, tornando-se proeminente figura na defesa de reformas econômicas radicais, redução do tamanho do estado e maior liberdade individual.
Fundou o partido "La Libertad Avanza" (A Liberdade Avança), lançando então, sua candidatura presidencial, com discurso anti-establishment e promessas de reformas econômicas profundas.
A combinação da experiência como economista, autor e comentarista, aliado a sua capacidade de comunicação e apelo populista, culminou na eleição para presidente da Argentina.
Este país que conta hoje com 40 milhões de habitantes, metade deles concentrados na Grande Buenos Aires, e por isso mesmo chamada entre demógrafos locais de Cabeça de Golias. Outra particularidade portenha é a de comprimir toda sua população em apenas 1% do território, graças à repetição do modelo da capital, nas poucas, grandes e médias cidades.
Entre propostas econômicas, Milei preconiza a dolarização completa da economia portenha, adotando a moeda americana como oficial. Acredita que assim, conseguirá estabilizar a economia e combater a crônica inflação do país.
Sabe aquela historinha de estado mínimo, preconizada também por Trump e pelo Hermano Messias, com cortes nos gastos públicos, para equilibrar o orçamento e reduzir o déficit fiscal, Milei propõe ainda em seu pacote econômico, eliminação de subsídios, privatização de estatais e redução do tamanho do Estado.
Também defende flexibilização das leis trabalhistas, tornando dinâmico e atrativo o mercado para empregadores, exclusivamente para eles. Acredita que assim, reduzirá o desemprego e simultaneamente aumentará a competitividade da economia argentina. Não levando em consideração os reflexos dessa política na vida dos trabalhadores. Vale aqui lembrar, que o Messias brasileiro, mesmo sem conseguir emplacar tantas mudanças, deixou 33 milhões de brasileiros passando fome, e uma estratosférica taxa de desemprego de 14,2%.
Esses princípios econômicos que sequer dariam certo na Dinamarca, onde todos problemas sociais já foram resolvidos, se aplicados na combalida economia argentina, vão acabar de arruinar com o pouco que restou da qualidade de vida, de um povo, que no passado vivia uma realidade europeia, ao sul da linha do Equador.
No campo político, vai transferir mais responsabilidades federais para províncias e municípios, pressupondo que assim tornará o governo mais eficiente e responsivo às necessidades locais, só esquecendo-se de explicar, como esses entes vão arcar com o crescimento dos custos.
Defende também a simplificação da burocracia, com redução do número de funcionários públicos. A intenção é de dar agilidade ao governo, desonerando contribuintes.
No campo social, demonstra todo desapreço pelo cidadão, criando um sistema de cheque para a saúde e a educação. Esses cupons servirão para pagar tanto a escola, como os atendimentos de saúde, claro, na rede privada. Faltou apenas perguntar aos empresários se terão capacidade de atender a essa demanda excepcional e se aceitarão o valor tabelado pelo governo.
Milei defende as liberdades individuais e a redução da intervenção do Estado na vida das pessoas. Esse pacote inclui: defesa da propriedade privada, liberdade de expressão e outras liberdades civis.
Na questão da segurança, propõe abordagem rigorosa no combate ao crime, com fortalecimento das forças de segurança e adoção da política de tolerância zero para crimes graves
Na reforma do sistema judicial, inclui a modernização dos processos judiciais e a eliminação de práticas que as torne menos suscetível a corrupção.
Propõe abertura da economia argentina ao comércio internacional, buscando acordos comerciais que beneficiem o país, e uma postura mais independente em relação a organizações internacionais como: o MERCOSUL, Fundo Monetário Internacional (FMI), buscando evitar a dependência excessiva de empréstimos externos.
Embora Milei tenha conseguido implementar algumas de suas propostas, continua enfrentando desafios significativos. A resistência política e social às suas reformas radicais, as complexidades econômicas e a necessidade de construir consensos no Congresso são obstáculos contínuos. Além disso, algumas das propostas, como a dolarização completa, exigem mudanças estruturais profundas e a aprovação de legislações adicionais.