Apelidos
Apelidos
Vinha eu cá pensando com meus botões quando me lembrei que a maioria das pessoas, além do nome próprio, carrega um apelido.
Lembrei-me então dos amigos, ou simplesmente colegas, ou mesmo apenas conhecidos. A primeira pessoa que veio a essa pequena cabeça foi o “Prefeito”. É um apodo de pompa ou, digamos, um título que impõe respeito. Se o conhecermos, logo se repara que é um chamamento com descaso. Além desse, outro que dá galhardia é o de “Campeão”. De tanto chamar de campeão para os colegas de trabalho passou a ser chamado com essa alcunha, principalmente quando todos queriam completar a frase, mas não tinham coragem: Campeão de Horas Extras. Tem apelido que só é dito para a própria pessoa, pois além de ser chulo, enobrece ou empobrece o ouvinte: “João Tabaco”, “Picinha” e “Guasca”. Existem alguns que a gente não sabe de onde vêm e, portanto, não requer explicação, como é o caso de “Guaiaca” e “Pua”. O próximo apelido fui eu mesmo que presenteei. Meu amigo Osni era homônimo de um cantor gaúcho de pouca fama e que levava o complemento de “Bossoroca”. Logo eu o estava chamando, com carinho e sem apelação, por esse suplemento. E todos foram atrás.
Existem alguns que advém de defeito físico e não era bom que assim os conhecêssemos. Todavia, nesse mundo de competição, sempre tem alguém querendo diminuir os outros, dando-lhes nomes que os depreciem: “Gago” e “Dezoito” (faltavam-lhe dois dedos na mão).
Alguns têm relação com animais, aves e insetos. Um porque quando corria não tirava os pés do chão parecendo um “Pato”. Um garoto e uma garota ganharam o mesmo nome de uma ave porque tinham o rosto muito miúdo e ficaram conhecidos por “Curreca” e “Corruíra”. Já aquele que chegava ao serviço de óculos escuros, fizesse sol ou chuva, foi parabenizado com o título de “Carocha”.
Tem gente que se arrepende de ter feito algo que se destacou perante os outros. Foi o caso de “Lambido” que apareceu para treinar futsal com o cabelo cheio de gel fixador.
Alguns repetem exageradamente certa palavra e acabam sendo chamados por ela. Foi o caso do meu amigo “Paixão” e da minha amiga “Estrafego”.
O mais interessante dos que me lembrei é de uma senhora que ganhou uma madrasta e não queria chamá-la de mãe, nem de madrasta e muito menos pelo próprio nome. Quando dirigia a palavra para a substituta de sua falecida genitora, sempre começava a frase usando a expressão olha aqui. Com o tempo as palavras foram se juntando e até hoje a madrasta é conhecida por “Olhaqui”. Alguns são lerdos em seu serviço, outros, pelo contrário, são rápidos no gatilho, digo, no serviço, e ganham com galhardia o apelido de “Ligeirinho” ou “Zeca Bala”.
Nomes da cidade de proveniência são muito comuns e escolhi somente três, pois os conheci pessoalmente: “Imaruí”, “Imbituba” e “Laguna”.
Algumas mulheres são lindas por natureza. Outras não foram agraciadas com o modelo de beleza apreciado pelos homens e às vezes ainda não se ajudam, cobrindo-se com roupas ridículas que parecem pertencer ao século passado.
Ganham o apelido sarcástico de “Top Model” e, se soubessem, provavelmente mudariam o modo de vestir.
Por fim, vou homenagear um dos meus melhores amigos cujo apelido se restringe aos familiares e sei que não se aborrecerá, pois, o mesmo nem sabe de onde ele vem essa estranha alcunha: “Soleto”.
Espero que não me apelidem. Mas se assim o fizerem, me apliquem um apodo, cognome, epíteto, qualquer coisa que eu não fique sujeito a apupo, chacota, deboche, galhofa, troça, ou qualquer zombaria.
Aroldo Arão de Medeiros
07/02/207