A morte
A morte é uma realidade que nos cerca e um espectro que nos ronda. Lidamos com ela durante a vida e a aguardamos para o nosso momento final. Quando jovens, via de regra, é algo distante que aos outros atinge, os velhos e seus familiares. Vivemos como se fôssemos imortais e nossos parentes e amigos fossem durar para sempre. Ah, tempo bom.
As décadas passam e as pessoas da nossa volta vão passando, partindo, e ela deixa de ser uma estranha. Mais adiante, torna-se uma íntima conhecida e, mais adiante ainda, quando pensamos que já somos os últimos de nossa geração, ela adquiri confiança suficiente para nos chamar apenas pelo primeiro nome ou, até mesmo, pelo apelido. De quantos meses, de quantos anos ainda dispomos? O fato é que, depois dos 50, podemos durar mais 20, 30 ou 40 anos ou mais 20, 30 ou 40 dias. Envelhecer, não é por acaso, rima com morrer. Aqueles que tem sorte, envelhecem bem e enganam muito a morte.
A morte dos demais seres vivos do planeta, por outro lado, nos garante a vida. Matamos os animais e vegetais para comer e os insetos para nos proteger. Usamos o couro dos animais e a madeira dos vegetais. Predadores implacáveis, impiedosos e mortais, eis o que somos. Matamos para bem viver e para sobreviver.
A morte é o fim da vida terrena. Insofismável e inevitável. Morremos e fedemos, depois viramos pó. "Do pó viste, ao pó retornarás". Ah, mas a vida eterna? Bem, se estivesse escrevendo sobre a vida eterna, não usaria a palavra morte, não é mesmo? A morte inexiste na vida eterna. Todavia, o eterno não faz parte do plano físico, mas sim do sobrenatural. Nem a Terra ou o Sistema Solar, hoje sabemos, durarão para sempre. A morte é tão natural quanto o nascimento. Ou o natural e o sobrenatural são dois planos da mesma realidade, ambos fazendo parte da vida, num sentido mais amplo? Tá, mas daí é o assunto da vida eterna, para outra crônica.
O nosso prazo aqui é a data de validade biológica de nosso corpo físico. Ponto. Vida eterna, ressurreição, reencarnação, paraíso, inferno, purgatório, umbral, plano espiritual, tudo isso é pra depois, pro insofismável inevitável. Certa vez escrevi uma canção cuja letra tinha isso: "Passou a vida inteira Preocupada com o outro mundo Nunca parou pra pensar no quanto é absurdo Esquecer que a gente Vive aqui".
Quer ser bom e ajudar? O seja e o faça agora! Essa é a hora e esse é o momento. Há muito ateu por aí fazendo o bem e preocupado com o seu legado para as futuras gerações. Logo, não precisa ter religião pra ser um cidadão do bem.
Camille Monet no seu leito de morte, 1879, Claude Monet