Sala de espera

Nada conseguia tirar aquela angústia do meu peito, aquela sensação horrível e interminável que me avisava da imprevisibilidade, que me lembrava que era difícil prever em que momento eu sairia dali. Me irritei com o barulho de pés, nossa, havia muitos pés!

— Muito pé batendo no chão — pensei, irritado. As pessoas estavam nervosas. Rostos fechados, bocas cerradas e olhos caídos.

— E estão com sono — concluí. A face irritada não deixava esconder que ninguém ali estava, de fato, interessado em permanecer no local por mais tempo.

— É dengue? — um homem pálido, sentado ao meu lado, questionou. Disse-lhe que não e que estava lá para fazer uma consulta com o oftalmologista.

— Ah! Se eu dissesse para você que poderia esperar, esperaria? Tem dias mais calmos. Hoje, como pode ver, só enfermos. Você vai passar na frente da senhora com suspeita de catapora.

— Ah, moço, é urgência — disse, com pausa. — Eu não o vejo — continuei, e é claro que isso é verdade, pois se não fosse, teria descrito o homem com mais características além de "homem pálido".

Me sentei no fundo da sala de espera, só com esse senhor no meu cangote, e eu com uma sacola pesada de roupa a devolver.

Comecei a pensar no porquê aquele homem estava me perturbando, afinal de contas, havia mais pessoas na sala além de mim, todas na minha frente.

— Sábado é dia de feijoada — ele disse. Fiz silêncio, fingi não ouvir. Ele visivelmente ficou irritado. Mais um para a conta.

A criança chora, pedindo doce para a mãe. A mãe se emburra, já que queria estar dormindo naquela manhã de quarta-feira. O pai, quem sabe onde está!

Tem um advogado, empresário, traficante, dono de padaria, morador de rua e um professor na mesma sala. Todos juntos esperando.

— Acho que o único lugar do mundo que mostra que todos somos iguais, além do cemitério, é a sala de espera — soltei para o homem. Ele se espantou! Disse-me que eu estava errado, pois as pessoas podiam estar em salas de espera de hospitais e clínicas nichadas em diferentes classes sociais. Ignorei a fala dele.

— É democrático — afirmei. O que eu não vejo, não é real.

Mais horas se passaram e o doutor nada. O traficante logo levantou, dizendo que não tolera demora nem "falta de palavra". O empresário disse que compraria a clínica e faria uma reforma a fim de melhorar as condições ali presentes. O padeiro se preocupou com a fornada do dia, que ele ainda não tinha feito, e que sairia atrasada devido ao atraso do doutor. O professor entrou em pânico! Tirou de dentro da bolsa uma série de papéis preenchidos com tinta azul e começou a corrigi-las na sala de espera, apoiado num caderno em cima de seu colo. "Não terei tempo depois", deve ter pensado.

— Não sei o porquê de tanta pressa — disse o morador de rua.

A atendente da clínica logo foi à sala de espera. Frustrada, disse que o nome de todos os que foram chamados já estava aparecendo há mais ou menos vinte minutos no visor. Foi quando vi! O visor estava acima da televisão, numa cor preta com os nomes em vermelho.

— Ah, agora a fila vai ser ainda pior! Não sabia que todo mundo tinha que passar no oftalmologista! — exclamei.