Distância

- Te odiei tanto por você ter sumido. Por você ter se afastado da forma que se afastou. Sem sequer deixar uma palavra qualquer. - Ela disse. Como se estivesse vomitando as palavras na minha cara.

- Tive os meus motivos.

- Você sempre tem os seus motivos, né?

- Pois é... Por tanto tempo eu medi e pesei cada palavra que iria te dizer antes de ir embora. Mas no fim eu percebi o desperdício.

- Desperdício?

- Sim. Desperdício na insistência. Na ideia de que era possível estabelecer algum tipo de conexão... alguma via de mão dupla.

- O que você quer dizer com isso?

- Que mesmo estando aqui agora, está claro pra mim que eu não vou chegar a lugar nenhum se estiver preso a você.

- E o que você quer afinal?

- Talvez eu tenha esperado demais... Talvez eu tenha achado que você é algo que não é. E por esse engano a culpa é só minha.

Eu tentei me colocar em vários lugares na sua vida. Mas só me retirando totalmente dela que eu parei de me machucar. Talvez entre nós dois a coisa tenha que ser assim.

Ou toda distância do mundo, ou nenhuma.

- E você tomou suas decisões e chegou às suas conclusões sem sequer me consultar...

- Eu só sou responsável pelo meu lado da história. Não pelo seu. Não sou eu que decido me machucar quando você desaparece no seu silêncio, ou quando resolve aparecer de madrugada, pra transar e sumir.

Pra me dar um pouco de paraíso e se retirar enquanto o teu prazer ainda escorre pelos meus dedos.

O fato é esse. Mas eu posso decidir não deixar que isso se torne uma recorrência.

que nossa relação se torne um poço de ansiedade, onde eu tento não me afogar, noite após noite.

Se não podemos ser dois. Eu não quero ser uma fração.

Não quero ser uma sombra... um fantasma preso nas noites em que você decidiu se aproximar.

Ela mordeu os lábios e pela primeira vez eu percebi a indecisão materializada na carne.

Respirei fundo e continuei. Antes que eu me perdesse novamente nos vazio dos olhos dela.

- Você fala do egoísmo dos meus motivos... Mas nunca parou pra ouvi-los... ou para entender minhas razões. Eu nunca quis mudar nada em você. Mas talvez eu esperasse um pouco mais...

Que você me colocasse em algum lugar especial... Algum lugar de permanência. Não de inconstância...

Que você pudesse me olhar nos olhos e falar o que quer e o que sente. Sóbria... Séria. É o mínimo... o óbvio...

Mas só por isso, por esperar por algo que você nunca se dispôs a me dar, é que eu já comecei perdido nessa história.

talvez o óbvio seja óbvio apenas pra mim. E por isso a distância.

e é por isso que se não vamos nos encontrar de verdade, eu prefiro que o silêncio do desencontro.

Ela seguiu calada. E eu frustrado...

Talvez o meu erro fosse esperar palavras e algum sentido da parte dela.

Talvez o amor dela brotasse do desespero e do medo da perda,

e a paz que eu tanto queria

fosse uma dose letal de tédio que ela não queria tomar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 22/07/2024
Reeditado em 22/07/2024
Código do texto: T8112502
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