O tempo passa e minha dificuldade de dormir só aumenta. Fico até tarde no computador, visitando páginas de amigos, comentando textos, lendo notícias online, assistindo a vídeos. Mas, por mais que o sono pareça presente, bato a cabeça no travesseiro e, como um passe de mágica, os olhos se abrem e a mente desperta – é aí que os pensamentos começam a fluir. Minha mente cria tempestades em copo d'água - pequenas preocupações se agigantam no silêncio da noite. Já li inúmeras vezes que pensar no futuro não leva a nada; só acumula incertezas, drena energia e paralisa diante de inúmeras possibilidades inúteis e improváveis.
Ouço nesse momento o barulho da água da fonte lá fora e não posso deixar de culpar a minha insônia aos quase cinquenta gansos que ficam no lago em frente à janela do quarto. Durante a noite, eles fazem um barulho alto, como se estivessem engasgando. Descobri que esse é o jeito deles se comunicarem à noite e também de marcarem seu território. Às vezes, o caos exterior é um reflexo do tumulto interno. Tentando vencer essa luta da falta de sono, deixo meus pensamentos voarem. Experimento meditações de relaxamento, repetições de palavras e preces, práticas que tanto utilizei durante a pandemia – mas, por outro lado, é tão mágico pensar que aquela fase passou.
Recentemente, descobri uma técnica interessante: com os olhos fechados, imagino uma caixa bonita, com uma tampa decorada e coloco nela todas as minhas preocupações e a fecho. Entrego-a nas mãos de Deus e esse simples ato de entrega proporciona uma paz que a minha mente não pode alcançar sozinha. De repente, então, o barulho dos gansos, que antes me incomodava, agora parece apenas um lembrete de que nem tudo está sob meu controle.
Ajeito o travesseiro, afundo minha cabeça e fecho os olhos; com os problemas guardados, penso que fiz o melhor que pude. Talvez, no final das contas, a verdadeira paz esteja na simplicidade de entregar o que não podemos controlar.