UM ABRAÇO DE ALMAS
Sempre tiro os sábados para resolver algumas coisas de casa; ir ao médico, fazer
compras e pagar boletos, etc. Mas, sábado agora, algo me deixou um tanto reflexivo.
Devido às constantes quedas de pressão, resolvi ir ao centro de Fortaleza de ônibus, fui
aconselhado pelo meu médico, evitar a direção.
Pois bem, após resolver o que tinha de ir fazer, voltei a uma parada de ônibus, bem
movimentada, creio que já fosse umas 12 h, quando chegou um moço de estatura
mediana, magro e vestido com uma blusa branca ou quase branca, onde pude ler Karatê.
Ele posicionou-se em nossa frente, e foi (vender seu peixe), isto é falar da sua vida na
rua e o quanto sofria, levando aquela vida rude. Falou que era campeão nacional de
caratê e que passou viver nas ruas de Fortaleza como desenhista. Mostrou sua arte,
desenhando rápido, o rosto de uma jovem e depois pediu alguns trocados para aquela
plateia inquieta, à espera do coletivo, em meio ao sol escaldante da capital cearense.
Falou que estava com fome e saiu pedindo uma moedinha para inteirar uma refeição…
Eu senti uma vontade louca de ajudar aquele moço, abri minha carteira de bolso e dei-
lhe alguns trocados, tentando fechar a sua mão, para que ninguém visse o valor, notei o
semblante de alegria dele, quando devagarinho abriu a mão e viu o valor que eu lhe
havia dado, fitou-me de cima a baixo e com muita educação perguntou se eu tinha
coragem de dá-lhe um abraço.
Na hora todos que estavam na parada de ônibus, ficaram olhando e esperando a minha
resposta, creio que pensavam que eu iria dizer não, visto as vestes do rapaz. Tomei
fôlego e falei que sim, que não havia de esquiva-se de um abraço, somente por ele ser
um homem de rua, dirigi-me a ele e dei um abraço puro e verdadeiro, naquele instante
senti em meu pescoço algo morno a escorrer; eram lágrimas de um ser que o mundo e o
sofrimento não levaram dele, a emotividade...
Em alguns segundos soltou-me e disse-me: “- Fazia anos que não
sentia um abraço tão bom e verdadeiro. Quero que saiba, que o valor que me deu para
fazer uma refeição, nunca chegará ao valor desse abraço!” Naquele instante senti-me
gente e mais ainda, porque, depois do relato do morador de rua, ouvi palmas fervorosas
daquele público que como eu esperava um transporte que nos levasse ao nosso destino.
Ps. Um caso verídico