FOTOGRAFIA

Por mais que voltemos ao mesmo lugar, e até mesmo que chova, a fotografia nunca carregará o motivo, o incentivo ou a mesma magia daquele primeiro momento... seria outro instante, outras sensações, e outros sentimentos... não podemos reformar o tempo, nem trazer de volta o que foi vivido, até o mesmo lugar nos parece diferente.

Outro dia havia tanto sonho, desejos e expectativas, e nas asas de um passarinho as serras todas percorri, me joguei por entre as dispersas nuvens, desci e dormi com frio... despertei e já não era a mesma... tive a impressão que os sonhos que coloquei em algum lugar, os perdi, tentei reanimá-los e sequer os achei, tudo era diferente, apenas tive em meu olhar o mesmo lugar, como uma fotografia que você guarda como lembrança e quando retorna ao mesmo lugar, sentiu desvanecer a esperança, o verde dos matos já não combina com a minha alma cinza, e nessa penumbra me recolho. Um dia desses a minha alma irá se misturar por entre nuvens brancas e infinitamente permanecerei por entre as serras, sem negar as minhas origens.

Essa sensação de infinito quando contemplo as serras, e sinto frio, é melancólico... enquanto diante do mar, e quando o sol arde em minha pele é como se a vida estivesse a me chamar e já me sinto cansada, não atendo o chamado do horizonte, já nas serras me aconchego e como para sempre ali, eu me encontro. Desço as escadas do tempo, não vou ao porão, caminho pelo verde a se perder de vista, vou e volto e nada mais me falta, não importa em qual serra eu esteja, quando estou dentro dos matos, a mulher que eu fui se esvai, fica somente esse ser enraizado, esse desejo de sossego, que de mim não sai.

Estou cansada do movimento da cidade, da agitação, da busca incansável das pessoas, seja por ambição e poder, faço parte de um sistema, onde vivo para sobreviver... estou cansada das falas de sempre e das falsidades. Tenho urgência em fugir, quero sair desse dia após dia que vem para me consumir.