Gol nosso de cada dia

Admira que a felicidade seja tão comprada na servidão dos pés, das pernas, cabeça, instrumentos diretos na produção de um goooll!

Quanta dependência, por conta da preguiça (será?), contratar por serviços que produzam emoção positiva, enaltecendo o lugar sob holofote universal.

O gol em si sacia, contenta, apaga o resto, inclusive, o demérito de se ter ganhado e não convencendo, com um espetáculo abaixo das expectativas.

O gol vitorioso enaltece, cria soberba, inutiliza a mais abalizada crítica futebolística.

Por ele, no final das contas, apazigúa-se e arremata-se: “não jogou bem, porém ganhou, eis o que basta!” Vale ganhar, sob chancela de gol válido - aquele de impedimento, de mão, ou outro modo antiético, contrariando a regra.

O futebol diverte, distrai, pode até educar, além disso, porém, é contrato no inconsciente coletivo de prestação de serviço de produção de euforia, alegria, felicidade.

O jogador trabalha para este objetivo, esta é a sua função: provocar a eclosão hormonal de contentamento que impregne os vasos sanguíneos, fazendo rir o seu proprietário, o qual lhe patrocina, neste caso, o torcedor.

Perigosa escravidão voluntária em transferência de responsabilidade pela autogestão de ser-se vitorioso(a), construindo os seus próprios gois!

E que dizer do pedir do petiz, induzido, na cacunda do pai, que o team de pobres mortais elevados a heróis, elimine, com gois, a concorrentes e lhe dê a taça de imbatível campeão de um torneio qualquer!?

Mas certamente que a crítica de um teor assim pode conter uma face apenas da psicologia humana social, de gosto acre quão moralista primando pela perfeição que ao homem não pertence ainda sem sinal de futuro próximo.

Nem mesmo é possível generalizar a motivo único o intento em busca do tento que um gol lhe traduz.

Então a psicóloga surge para humanizar à flor da sensibilidade e ressignificar o gol que se procura, pelo qual se lotam as arenas sublimadas dos circos de Roma…

E vai excluindo, separando, motivos de motivos que ocasionem a ida ao jogo de futebol.

Assim a causa hoolingan que se universaliza em diferentes estádios por todos os (?) quadrantes do mundo, não ocupa as arquibancadas totalmente, haja vista por outros propósitos é que se pagam ingressos permitindo acesso à visibilidade de um clássico imperdível entre times sob cujos ombros sustentam gravosa responsabilidade qual de meter gol ou gois que resultem vitória!

Eis que o abrandamento crítico vai ganhando espaço na razão do cronista, quando o casal vizinho amoroso reservou ingresso, assim como renomado artista igualmente, seguidos da sóror, torcedora publicamente confessa para tal time,

e aqui e ali muitos vão a preencher os espaços anti-hoolingan em sua causa de fundo formalmente violenta, independente do resultado favorável que o gol homologue.

Exagero supor que os tantos motivos somados terminam por colorir, deixando em segundo plano, tênue, apagado, o ânimo feroz e veraz da minoria que espraia a bandeira de causas indevidas trazidas aos estádios de futebol?!

Erro supor da confraria no alinhamento de propósitos em busca de vitórias, catarse, assistência, nas batalhas da vida, que afinal, o gol serve como símbolo, contentando a todos, jogadores e torcedores que se tornam um?!

Gol, clímax da emoção positiva, esta que propele o mundo à felicidade, e sem a qual viver é um morno zero a zero.

Seraphim
Enviado por Seraphim em 20/07/2024
Código do texto: T8110976
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