Gregório não gostava de gregos; nem dos ventos deles
Contava Gregório (e meu avô paterno contava pra nós), que na década de 70 ele foi expor seus quadros na famosa galeria Kappa Art Gellery, na cidade de Potos, Grécia. Pinturas essas do quilate de um Van Gogh e outros que meu avô não pronunciava muito bem. Gregório dizia que ficou instalado na ilha de Santorini, que escolheu por uma afinidade cristã: Santo...
Enquanto aguardava o convite oficial para expor, alugou um ateliê e foi pintando alguma coisa. Foi aí que o filho de um influente político da ilha, iniciante nessa mesma arte, praticamente (essa palavra vovô pronunciava com ênfase) “praticamente” exigiu que Gregório o retrata-se de corpo inteiro e seminu. Gregório não aceitou. No outro dia esse ateliê amanheceu parcialmente queimado. Explicando: seus 12 lindíssimos quadros que seriam vendidos por excelente preço, o fogo deu fim interrompendo por vez a sua riqueza e glória eterna.
Desde então Gregório odiava a Grécia. Contava que lá tudo é ruínas. E tudo muito caro. “Quer conhecer a Grécia? Compre cartões-postais. São bem mais bonitos que a realidade”, dizia.
E se alguém, por descuido ou brincadeira lhe abreviasse o nome para Grego, arrumava inimizade.
Sobre a Grécia ser o berço cultural da humanidade, respondia perguntando: - E por que o país vive nessa crise econômica há tantos anos? E acrescentava: - Sabe o que os escritores gregos escrevem atualmente? (Claro que ninguém sabia) - Poesia falando do vento, tipo: “A volta que o vento deu” - “A volta que o vento dá” - “Onde o vento faz a curva” - “O vento dobrando a esquina” - “O vento dando marcha a ré” - “O vento que não era vento” - “O vento subindo o morro” - “Deixe o vento soprar” - “Meus beijos o vento levou” e outras que vovô não conseguia lembrar. E perguntava: - “Foi essa a herança cultural que eles receberam? Foi nada! Nem sabem diferenciar ‘vento’ de brisa”, concluía. Obs:. Resta-nos o consolo que por aqui alguém pensou em ‘estocar’ o vento.
Lembro que alguém da família perguntou a vovô se Gregório realmente pintava bem? Respondeu que, até onde ele sabia, ninguém tinha visto nenhuma pintura dele. Nem machas de tinta em suas vestimentas.