O renascimento em Cristo

Na sua obra “As Variedades da Experiência Religiosa”, publicada em 1902, William James, psicólogo e filósofo norte-americano, que viria a ser bastante conhecido como um dos pais do Pragmatismo Filosófico, elaborou e desenvolveu o conceito por ele chamado “Twice Born”, que em português significa “nascido duas vezes”, para descrever os indivíduos que passaram por uma profunda experiência de transformação religiosa ou espiritual, resultando em uma espécie de "renascimento" psicológico e existencial. Segundo William James, diversos autores e figuras históricas passaram por essa experiência, entre alguns deles estão Liev Tolstói, Santo Agostinho e Blaise Pascal.

O primeiro deles aqui citado, um dos mais célebres escritores russos, autor de clássicos da literatura mundial como "Guerra e Paz" e "Anna Kariênina", passou por uma profunda crise espiritual que marcou significativamente sua vida e obra. No final da década de 1870, após o sucesso de suas obras-primas, Tolstói começou a questionar o significado da vida, o propósito da existência e os valores da sociedade. Essa crise foi desencadeada por um sentimento de vazio e inutilidade, apesar de seu sucesso literário e status social. Ele relatou essa experiência em sua obra "Uma Confissão" (1882), onde descreve sua busca desesperada por respostas às questões existenciais e espirituais. Tolstói passou a rejeitar as convenções da sociedade e da Igreja Ortodoxa Russa, criticando duramente a hipocrisia, o materialismo e a corrupção que via ao seu redor. Tolstói adotou uma forma de cristianismo que enfatizava os ensinamentos morais de Jesus, especialmente o Sermão da Montanha. Ele defendia uma vida simples, o pacifismo, a não-violência, e a resistência ao mal sem o uso da força. Suas ideias influenciaram movimentos pacifistas e figuras como Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. Além disso, Tolstói também renunciou a sua riqueza, buscando viver de maneira mais próxima ao campesinato russo. Ele se dedicou a escrever tratados filosóficos, religiosos e políticos, e envolveu-se em várias iniciativas sociais, incluindo a educação dos camponeses e a reforma agrária.

Já Santo Agostinho, um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do Cristianismo, descreve na sua obra, de título muito semelhante ao nosso primeiro exemplo, chamada “Confissões”, escrita entre os anos de 397 e 400 d.C, sua conversão ao cristianismo após um longo processo de transformação espiritual, influenciada por sua busca intelectual depois de uma juventude dissoluta, bem como o contato com pessoas que fizeram parte de sua vida, como sua mãe Mônica e também Santo Ambrósio. A sinceridade com que Agostinho relata suas experiências passadas é uma das características mais marcantes desta obra. O livro pode ser considerado a primeira autobiografia da literatura ocidental.

O último de nossa lista, Blaise Pascal, matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês, é citado por William James como um desses “nascidos duas vezes”, devido a sua experiência de conversão religiosa profunda, conhecida como sua "noite de fogo" em 23 de novembro de 1654, na qual Pascal teve uma visão e uma experiência espiritual poderosa, que ele descreveu como um encontro direto com Deus. Sentiu uma sensação de fogo ardente, que ele interpretou como a presença divina. Após a "noite de fogo", Pascal escreveu algumas de suas obras mais conhecidas, incluindo "Pensées", uma coleção de pensamentos sobre a religião e a vida que visava defender o Cristianismo e persuadir os céticos.

O que podemos perceber em comum nas experiências e transformações destas três figuras históricas muito importantes da literatura ocidental é a enorme influência que a vida de Jesus teve nas suas. E uma pergunta que me faço após ter contato com esse conceito de “nascido duas vezes” é se é possível que qualquer pessoa, como eu ou você que está lendo este texto, possa ter essa experiência de transformação espiritual por meio da figura de Jesus? A minha resposta é que sim! Podemos renascer a qualquer momento que quisermos, para isto basta aplicarmos o principal e mais importante ensinamento que esse homem simples, nascido em Bélem e criado em Nazaré nos legou, que é através de um ato que, em um primeiro momento, pode ser considerado o mais difícil de todos, mas que é o mais libertador; falo do PERDÃO.

De um ponto de vista psicológico, o perdão libera o indivíduo do peso do ressentimento e da amargura, emoções que podem levar ao estresse, ansiedade e depressão. Além de que perdoar permite a cura de relacionamentos, reduzindo conflitos e promovendo harmonia e cooperação entre as pessoas, é como se nos livrássemos de um peso que nos puxa cada vez mais para o fundo de um mar negro de mágoas e desgostos.

Então, amigos, tentemos fazer mais do que apenas idolatrar a figura deste homem, que como qualquer outro também é filho de Deus, mas façamos mais do que isso, procuremos emular suas atitudes, sobretudo nesta questão que pode fazer com que qualquer ser humano renasça através de um ato, como dito, que pode ser extremamente difícil. Sejamos exemplos dos “Twice Born”, de William James, e perdoemos aqueles que nos machucaram em algum momento de nossas vidas, porque, segundo o Mestre Jesus de Nazaré, nós não sabemos de fato o que fazemos.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 19/07/2024
Reeditado em 19/07/2024
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